Joaquim Gomes: «Passou-se de “cada macaco no seu galho” para meia dúzia de macacos dominam os galhos todos»
Há cinquenta anos o comércio tinha regras, e grandes ou pequenos, viviam ou sobreviviam em sã convivência, com as respetivas diferenças. Era a época de “cada macaco no seu galho”.

Os talhos vendiam carne; as frutarias vendiam frutas e legumes; as mercearias vendiam massas, arroz, açúcar, bacalhau, farinhas, etc, etc; as drogarias vendiam vários tipos de produtos químicos, cimentos, colas, etc, etc; as farmácias vendiam medicamentos; as retrosarias vendiam tecidos e afins; as lojas de moda vendiam fatos e tecidos; as sapatarias vendiam sapatos; as papelarias vendiam cadernos, canetas, lápis, etc, etc; as livrarias vendiam livros; as pastelarias ou cafés vendiam bolos, cafés, chás, etc, etc; as padarias vendiam pão; as serrações vendiam madeiras; as peixarias vendiam peixe; entre outros.
Todas estas atividades faziam da nossa então vila de Torres Vedras um centro de atividade comercial e um vai vem de pessoas de um lado para o outro, num frenesim saudável em que todos contribuíam para a economia de todos, tanto de patrões como de empregados. Era a época áurea do comércio tradicional.
Os tempos foram mudando e, como se costuma dizer “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. As pessoas foram sendo bombardeadas com novas formas de consumo, importadas do estrangeiro, trazendo o rotulo de modernas e avançadas. Passamos de “cada macaco no seu galho” para meia dúzia de macacos dominam os galhos todos. Vieram as grandes e poderosas multinacionais do consumo e duas ou três nacionais se juntaram elas (e que ainda por cima pagam os seus impostos noutros países da Europa) com novos sistemas comerciais, com novas técnicas de vendas, apoiadas pelos vários tipos de publicidade; uma verdadeira outra enganosa, com truques comerciais e com uma infinidade de produtos que não produzem e que impõem os preços e os tempos de pagamentos aos produtores. Uma autêntica ditadura do consumo, tudo isto com alguma conivência dos nossos governos locais, pois essas multinacionais utilizam os seus truques com as suas fórmulas mágicas, agitando as bandeiras da ilusão aos autarcas locais e os prendem aos argumentos dos milhões investidos e dos postos de trabalho criados.
Nenhum comércio tradicional consegue competir com as multinacionais do consumo que moldam as leis laborais a seu favor, os horários a seu favor, praticamente são eles que mandam em tudo a seu belo gosto e prazer, pagando multas irrisórias pelos seus atropelos às leis laborais, nestes casos, o crime compensa.
Os centos históricos ficam vazios de comércio e de pessoas, os museus e as atividades culturais estão vazios de pessoas, mas, os centros comerciais estão sempre repletos de gente.
Nós portugueses, gostamos de imitar sempre o que se passa lá fora e na Europa o comércio fecha portas aos domingos e feriados, porque não os imitamos?!
O que ainda resta do comércio tradicional sempre cumpriu essa regra.
Porquê que as grandes superfícies não são obrigadas a cumprir?!
Porquê que as autarquias locais antes de licenciarem uma grande superfície, não exigem destas um pequeno espaço (uma ilha) ondem podiam ser comercializados os produtos endógenos ou produzidos em cada concelho?!
Seria uma forma de divulgar e escoar os produtos locais.
Nada que já não seja executado em muitos países.
Nesta selva que se tem tornado a vida humana, os grandes também devoram os pequenos…. Afinal nada nos distingue dos outros animais, todos vivemos debaixo e sobre a lei da selva.