FRANCISCO CORVELO: «O Medo»
Há dias alguém me afirmou que tinha medo de andar à noite nas ruas da nossa cidade. Não resisti a perguntar porquê e a resposta foi “por causa de tudo o que anda para aí!”, pedi que me esclarecessem o que isso era e logo me disseram os assaltos, os roubos e as facadas, ora que se saiba nas ruas da nossa cidade não existe crime violento e quando pedi que me concretizassem apenas me foi relatado um roubo por esticão. Contudo logo me foi dito que até parecia que eu não via as notícias na TV e que não lia os jornais. Fiquei esclarecido.

Realmente tudo é feito para instilar o medo nas pessoas. Nos canais da “Televisão Que Temos” constantemente somos bombardeados com notícias de crimes, mesmo que nada tenham a ver connosco, tenham sido cometidos há vários anos alguns nem sequer no nosso país e as cenas e as descrições, mais os comentários repetem-se horas e horas a fio, instilando na cabeça das pessoas o medo e uma sensação de insegurança. Há até programas em horários nobres com juristas e outros especialistas que durante horas debatem à exaustão os crimes e castigos a inoperância da justiça, e até pondo em causa o regime democrático, mas sempre instilando o medo e sobretudo o medo de todos aqueles que são diferentes, sejam ciganos ou asiáticos sobretudo se usarem turbantes na cabeça, sim porque subliminarmente o “portuga normal” apesar de todas as estatísticas o contrariarem não é criminoso nem mete medo, para esta gente!
Temos de reconhecer que o medo está definitivamente instalado na nossa sociedade e esse é o melhor veículo de propaganda de implantação e de crescimento da extrema-direita. O resto, ou seja, os votos vêm por acréscimo!
Mas o mais grave ainda é também o medo que várias instituições constantemente instilam nas pessoas. É o medo permanentemente instilado pelos “média” de no futuro não haver dinheiro para as Reformas e pensões, é o medo instalado pela falta de médicos e outros técnicos no SNS, é o medo de termos de recorrer a uma urgência e esta estar encerrada, é o medo de uma irrealista e inimaginável guerra e que leva a maioria a aceitar pacificamente o que, como muito acertadamente comentava Sousa Tavares, Se “gaste dinheiro que não temos a comprar armas que não precisamos para combater uma ameaça que não existe” !
E é o medo que os cidadãos sentem quando são confrontados por determinadas forças políticas que se denominam de democráticas que ou fazem parte das suas listas ou vem aí a extrema-direita, que ou fazem parte das suas listas ou terão sérios problemas no seu emprego desde logo a perda do mesmo. Ora quando as pessoas são coagidas pelos medos o seu amor pelos “partidos do sistema” como lhe chama a extrema-direita e pela democracia, não pode ser grande. São todos estes medos que de fato são a antecâmera do fascismo começando desde logo por paralisarem a reação ativa das pessoas e tolherem o seu livre pensamento, nomeadamente de terem consciência das questões realmente importantes e fundamentais que paulatinamente os chamados “partidos do arco da governação” vão esvaziando do seu conteúdo de democracia política, económica e social que o 25 de Abril nos trouxe.
Confesso que tenho um enorme receio de, caso não vencermos os medos que diariamente nos instilam no mais profundo do nosso ser, estejamos no limiar de um novo fascismo que pelo controlo das mentes nem necessite da “bota cardada” para se impor e seja aceite e aplaudido pela maioria.
Pela minha parte recuso-me e como sempre recusar-me-ei a ter medo!