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A. PEDRO BELCHIOR: «Gestos de uma criança»

Há dias, estava a rezar na Igreja da Graça, e chamou-me a atenção uma criança de ano e meio/dois anos, que no altar do Senhor dos Passos, após subir o degrau aproximou-se da imagem do Senhor morto e depois de o ter olhado todo bateu no vidro do lado da cabeça do Senhor. Aproximou-se um adulto que lhe disse algo, que claro não ouvi, e a criança continuou direito ao altar-mor em passos meio de corrida e por lá andou nas suas observações. Foi chamada e no seu passo miúdo meio corrido lá veio em direcção à saída pela cochia do altar do Senhor dos Passos e neste, sem parar, subiu o degrau disse adeus com a mãozinha voltando a cabeça na direcção do Senhor morto e lá seguiu…

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Imagem ilustrativa: A. PEDRO BELCHIOR: «Gestos de uma criança»

Interrompidas as minhas orações, fiquei a pensar no que o Senhor me estaria a dizer nas atitudes daquela criança. Claro que não sei se a criança tinha alguma iniciação cristã, mas na sua inocência quis comunicar com a pessoa que ali viu. Manifestou a atracção, própria das crianças, pelo divino pelo sobrenatural e com toda a simplicidade, que traduzo para adulto em humildade, sem a qual nos afastamos do espiritual, esquecendo-nos do que Jesus disse “Deixai vir a mim os pequeninos e não os afasteis, porque o Reino de Deus pertence aos que são como eles (Mc. 10,14)”.

Depois deixou-me a pensar em mais questões das quais, partilho consigo estimado leitor, o sentido e importância das imagens que a nós adultos nos chamam a atenção para o que representam e são tão importantes na chamada Fé do povo. Fé expressa também nas manifestações populares com o culto prestado nas procissões, hoje com alguma tendência, segundo me parece, para desaparecerem. Se muitas interrogações me iam colocando quanto a este tipo de Fé, esta pequena história da criança, já apagou e está apagando muitas, e por este caminho em breve posso ir dedicar-me a outros assuntos.

Relacionado também com o prestar atenção e mesmo o cumprimentar, relembro o que antigamente as pessoas faziam quando passavam em frente a uma igreja e se benziam ou no caso de homens tiravam o chapéu. Era um modo simples de reconhecer a presença de Deus. E outras manifestações que vamos perdendo, como vamos perdendo Jesus, até sermos de novo colectivamente chamados à atenção.