Saltar para o conteúdo principal

SOFIA MÁXIMO: «Quantas beatas encontras em quilometro e meio?»

No passado dia 12 de abril, Torres Vedras associou-se à 5.ª edição do Plogging Challenge Portugal, uma iniciativa que, de norte a sul do país, pretendeu mobilizar o maior número possível de cidadãos em nome do exercício físico, da proteção ambiental e do fortalecimento do espírito comunitário.

3 min de leitura
Imagem ilustrativa: SOFIA MÁXIMO: «Quantas beatas encontras em quilometro e meio?»

Nesta edição, a ação contou com a colaboração da Zero Waste Youth e da Ecomood Portugal, que desafiaram torrienses, não a correr, mas a caminhar tranquilamente pelo centro da cidade, num percurso de cerca de 1,5 km. O objetivo foi claro: recolher beatas de cigarro espalhadas pelas ruas e, simultaneamente, partilhar conhecimentos sobre ervas espontâneas — plantas muitas vezes desvalorizadas, mas com reconhecidos benefícios para a saúde.

A manhã chuvosa não demoveu 14 mãos, que se juntaram com determinação para tornar as ruas de Torres Vedras mais limpas e conscientes. O resultado foi surpreendente: três garrafas de 1,5 litros cheias de beatas recolhidas ao longo do curto trajeto de 1,5km.

O número revela o impacto negativo de um resíduo aparentemente insignificante: uma simples beata pode levar entre 10 a 15 anos a decompor-se, sendo composta por acetato de celulose (um tipo de plástico), nicotina, alcatrão e metais pesados. Ao contactar com a água da chuva, esses compostos podem contaminar solos e infiltrar-se nos cursos de água, chegando eventualmente a rios e oceanos. Estima-se que uma única beata seja capaz de contaminar até mil litros de água.

Além dos riscos ambientais, a presença de beatas nas ruas afeta a imagem das cidades e vilas, sobretudo em zonas turísticas, onde o impacto visual e sanitário é ainda mais evidente.

Recorde-se que desde 2019 é legalmente proibido atirar beatas para o chão. A aplicação efetiva de coimas, que podem ascender aos 250 euros, continua a ser uma medida essencial para dissuadir este comportamento.

A caminhada teve ainda uma vertente educativa, focada na importância das ervas espontâneas nos ecossistemas urbanos. Frequentemente vistas como pragas ou espécies invasoras, estas plantas desempenham um papel fundamental na retenção do solo, na redução da erosão causada por chuvas intensas e na melhoria da infiltração da água, contribuindo para mitigar o impacto das enxurradas. São também uma fonte vital de alimento e abrigo para insetos polinizadores, como as abelhas, promovendo a biodiversidade — um pilar essencial da resiliência ambiental.

Ao divulgar o papel destas plantas, promove-se uma maior consciência ambiental e valoriza-se o contributo silencioso dos ecossistemas urbanos. Ao conhecerem as ervas nos usos culinários, medicinais e terapêuticos, os cidadãos desenvolvem um sentido mais profundo de respeito e responsabilidade ambiental.

Com pequenas ações locais, como esta, mostram que Torres Vedras está alinhada com os desafios globais, demonstrando que a mudança começa com passos simples — mas conscientes.

Sofia Máximo