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SÉRGIO TOVAR DE CARVALHO: «Trump e a democracia na América e mais duas notas soltas»

  1. Vendo bem, Donald Trump é um tipo honesto. É certo que muita gente diz mal dele, o que talvez não mereça censura -nem do próprio, justamente por ser honesto; mas é-o porque faz aquilo que diz e proclama: detesta a inteligência e ataca as escolas; odeia a abertura entre os povos e levanta obstáculos acrescidos à circulação de pessoas e de bens e impõe tarifas; deplora o Estado de direito e faz tábua rasa da Constituição; detesta a cultura e a liberdade e censura os media, menoriza a Europa e abraça Putin.
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Sérgio Tovar de Carvalho
Sérgio Tovar de Carvalho

Ao contrário do habitual da política externa americana, que invocando a democracia apoiava as piores ditaduras, fosse na América do Sul, ou no sudeste asiático; ou da soviética, que de botas e lagartas no terreno invadia e oprimia em nome da libertação dos povos das garras do capital; Trump, simplesmente, anda a destruir as fundações da ordem mundial e não anda para aí a dizer que quer outra coisa. Por isso, é honesto, se bem que se esteja a antecipar à Inteligência Artificial (IA), motivo pelo qual convém ser refreado, sob pena de ficar o mundo de pernas para o ar antes de ser assim virado pela força das coisas. Haja ordem no apocalipse! E não se confunda a IA com a EN (Estupidez Natural).

A acção do presidente eleito dos EUA começou pelo seu país, através da destruição da administração pública e consequente convulsão da ordem social, fenómeno que costuma desembocar em acções violentas; dado que, por força da leitura talvez um pouco literal de uma emenda à Constituição, os americanos andam todos armados; e considerando aquele exercício de lógica aristotélica outrora ensaiado na primeira página do Jornal Novo, pelos idos de 75, quando alguém opinara estarem certas armas em boas mãos (concluindo o jornal que, assim sendo, e dado a guerra civil estar nas armas, então estaria igualmente bem entregue), é de crer que também o futuro da América esteja, naturalmente, nas boas mãos do povo americano. O que talvez não augure nada de bom mas não deixa, mesmo assim, de ser francamente democrático.

Na verdade, a América é uma democracia e Trump foi eleito para a servir: assim sendo, e ficando em aberto se é, ou não, um grande estadista, parece todavia não restarem dúvidas de que é realmente um tipo honesto.

 

2. Por cá, parece que se avizinham uns “pactos de regime”, sobre não sei o quê e não sei que mais (claro, a justiça, a saúde, o empreendedorismo, a resiliência, etc.). Vamos a ver no que dá, esperando-se que não tenha de haver, depois, outros tantos pactos para desfazer os efeitos nefastos dos pactos de agora.

Chamar-me-ão pessimista, mas estou à espera de um grande arroz de pacto, com rodelas de chouriço.

 

3. O terceiro candidato à presidência a apresentar-se ao Povo, fez questão de salientar nada ter a ver com a classe política mainstream. Também me parece: apenas o conhecemos por ter sido líder da juventude de um partido e, mais tarde, depois de ter passado por um governo desse partido, haver sido secretário-geral do mesmo. Se agora tem cerca de sessenta anos, há talvez uns quarenta que o conhecemos por causa e associado a esse partido. Ora, é claro que nada tem a ver com o passado -e, está-me a chegar ao órgão olfactivo, nem com o futuro.

Sérgio Tovar de Carvalho