Política Carnavalesca
Ao longo das últimas semanas, o cenário internacional tem apresentado aspetos profundamente carnavalescos, onde determinadas posturas, decisões e acontecimentos evidenciam quadros-morais mais diminuídos do que os dos foliões torreenses numa segunda-feira de Carnaval.
Um dos mais célebres momentos dos últimos dias foi protagonizado pelo Presidente dos Estados Unidos da América, com a publicação de um vídeo gerado por inteligência artificial, onde é visível uma Gaza transformada num “paraíso”, acompanhado de uma letra musical que o apresenta o norte-americano como Libertador.
As ações daquele que é o líder da maior potência do Mundo, são sempre dúbias e reservam algum calibre que oscila entre o cómico e o trágico, no entanto, a publicação a título pessoal de um vídeo que demonstra uma correlação direta entre o seu histórico de investimento privado - com uma notória “Trump Gaza” - e os seus projetos diplomáticos ou acordos bilaterais em exercício de funções, é verdadeiramente grave.
Não menos grave, é um outro fenómeno, publicado nas plataformas da Casa Branca, onde Donald Trump aparece com uma Coroa, acompanhada de um “Long Live The King!”, um ato que viola a constituição política dos Estados Unidos.
Não terminando a jornada das “brincadeiras” americanas por aqui, destacando-se a limitação da capacidade de escrutínio dos meios de comunicação social, com a limitação de jornalistas, traduzindo-se isto no controlo político da informação.
Por terras europeias, assistimos nestas semanas a dois fenómenos, um tardio e o outro cómico, pelo seu caráter rotineiro.
A grande novidade, isto é, a grande alteração na predisposição dos políticos europeus, é o crescente reconhecimento da necessidade de agir com um pulso firme e uma mente afiada em matéria de segurança e defesa, especialmente, no suporte a ser concedido ao território e à liderança ucraniana.
O caráter cómico e rotineiro, é que este processo de transformação da visão e abordagem adequada a ser implementada, culminou em processos de conversações amplamente burocráticas, enquanto concebidas com o intuito de desburocratizar e simplificar as capacidades de intervenção europeia.
Da União Europeia, espera-se uma modificação da implementação e dos avanços na Política Comum de Segurança e Defesa e numa resposta concertada às ameaças expansionistas, hoje, a Leste (efetiva) e a Oeste (retórica), a serem visíveis, no dia em que as salas de reuniões sejam incómodas pelo ruído das tropas junto do Quartier Européen.
Outros dos absurdos verificáveis no Velho Continente, para além do mapa dos resultados eleitorais alemães, que demonstra uma apetência nostálgica por autoritarismos, são os diversos cenários que têm vindo a ser desenhados para a “Paz na Ucrânia” que deveria designar-se como “Fim do Esforço de Guerra Russo”, pela liderança norte-americana num processo negocial amplamente coincidente com os interesses americanos e russos.
Assim, destas últimas semanas, de intensa transformação política, o que gostaria de concluir, é que estes eventos não passam de uma partida carnavalesca por parte dos líderes mundiais, no entanto, o que concluo é que as previsões que havia escrito para 2025, estavam erradas. Não estavam erradas no seu conteúdo, mas na amenização do radicalismo que Presidente Norte-Americano está a revelar.
A Europa, ao final do dia, poderá preservar um aliado, para lá dos discursos ocos e das tarifas, no entanto, a Democracia está em vias de perder o seu mais forte e honrado integrante, os Estados Unidos da América.