Pai e filho guardam uma fascinante coleção de milhares de garrafas
António e Sérgio Rosa, respetivamente pai e filho, o primeiro professor de História aposentado com 75 anos, e o segundo gestor de projetos com 46, têm à sua guarda na aldeia do Ramalhal uma vasta e diversificada coleção de garrafas em vidro, calculada em 2.200, e outras tantas repetidas para a troca.

Coleção essa que engloba ainda rótulos, caricas, cartazes publicitários e as tão típicas e características caixas em madeira para o acondicionamento e transporte das ditas, quer de água quer de refrigerante, cerveja e até de leite. Tudo de produção nacional, tudo português, não só do continente, mas também das ilhas. Embora existam umas quantas fabricadas sob patente internacional, como é o caso da célebre «Laranjina C» espanhola.
Essa autêntica aventura de pai e filho, que o António teima em classificar como um “ajuntamento” e não uma “coleção”, começou a ganhar forma e a enformar-se por volta do recuado ano de 1995, no século passado, quando este encontrou, num depósito em Torres Vedras de um distribuidor da Auá e Sumol, caixas com garrafas antigas que eram exemplares rejeitados desde os anos 50 por não pertencerem às marcas representadas.
Hoje podemos encontrar no Ramalhal garrafas datadas da década de 20 do século XX, inclusivamente a de laranjada da marca «Torreense» e os tão famosos «Pirolitos». Estes últimos ainda mais antigos em termos de existência e comercialização. Mas também há as de Sumol, Sucol, entre muitas mais. Estamos a falar de 300 marcas diferentes
Em jeito de curiosidade diga-se que foram identificadas “fabriquetas de refrigerantes”, como o professor Rosa gosta de classificar e que apenas laboravam de forma sazonal por alturas da canícula nos verões quentes, na então vila torriense, na Freixofeira (Turcifal), nos Pedrógãos (Sobral de Monte Agraço), em Mafra e na Venda do Pinheiro e Ericeira.
Refira-se que há garrafas com os respetivos rótulos em papel ainda colados, outras com impressão serigráfica e também algumas com gravação em alto-relevo, um caso até para estudo por parte de jovens designers. O curioso é que não existe uma única garrafa repetida na coleção e todas elas são únicas. Tudo isso devidamente inventariado e registado.
Está tudo exposto por ordem alfabética em vitrinas e o espaço já denota ser exíguo para acolher tanta coisa junta. No entanto, é uma preocupação sempre presente e premente destes dois familiares colecionadores que qualquer garrafa que alguém tenha em casa, numa arrecadação ou sótão, “não vá parar irremediavelmente ao vidrão para reciclagem”, pois pode ter “toda uma história inédita ainda por contar” atrás de si.
Até porque é uma forma de preservar esse tipo de património, considerado industrial, porque há todo um mundo de “gosto estético, singularidade e exclusividade” que importa passar o testemunho às novas gerações. Podemos até afirmar que estamos perante uma coleção com génese de “valor artístico”, dada a sua “função e valor social” em determinado tempo da história industrial portuguesa.
Que importa preservar e salvaguardar dada a importância do seu testemunho para a memória futura, uma vez que no concelho e na região não deve haver nada igual, logo é caso único. Talvez seja boa ideia a mesma ter uma maior visualização e divulgação local, regional e até nacional.
Refira-se por último que António Rosa, um assumido apaixonado pela História, tem ainda outros dois polos de colecionismo no mesmo local, um ligado ao mundo farmacêutico e outro ao agrícola. Estamos a falar, neste último caso, de uma casa de família rural devidamente apetrechada de tudo quanto foi Portugal noutros tempos mais recuados.