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LUCAS QUARESMA: «A Solução que é Problema: Diversificar»

No contexto em que o discurso de resposta às novas políticas aduaneiras norte-americanas – com algum atraso – ecoa dentro de todas as Nações e especialmente, nos Estados-Membros da União Europeia, é importante acompanhar a difícil tarefa que é proposta enquanto “solução”, a diversificação de parceiros comerciais.

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Lucas Quaresma
Lucas Quaresma

Escutamos, de forma transversal a tese da diversificação como resposta para os constrangimentos recém-nascidos na era do Mercado-Livre, no entanto, pouco se tem desenvolvido sobre os potenciais parceiros e as condições internas das “sinergias naturais”.

A nível político, a personalidade que mais abertamente apresentou esta noção foi Emmanuel Macron, declarando a necessidade de suspender ou atrasar os investimentos europeus na economia norte-americana.

Outras figuras, de forma gradual, foram demonstrando o seu posicionamento, como foi o caso do Governo Português, na pessoa do Ministro da Economia, não obstante, a própria lentidão transversal na resposta aos EUA, demonstrada por diversos países europeus, dos quais se destacam os que economicamente são mais frágeis, com maior exposição aos riscos da volatilidade comercial e financeira, deveriam invocar a nossa consternação generalizada, pela ausência de respostas concertadas às ameaças a um dos pilares do demoliberalismo.

No entanto, não é com o intuito de criticar as múltiplas posturas das lideranças europeias que escrevo este artigo, faço-o pela necessidade de aflorar as condições internas dos potenciais parceiros comerciais que sustentarão a diversificação europeia, concentrando-me nas 5 grandes potências exportadoras da União Europeia (Alemanha, França, Itália, Espanha e Polónia) e em Portugal, por reunir condições estratégicas que podem surpreender os nossos parceiros.

Podemos procurar analisar as opções de diversificação com diversos indicadores, entre os quais: 1. Proximidade histórico-cultural; 2. Interesses geoestratégicos e 3. Concorrência.

A proximidade histórico-cultural, é o que podemos apelidar como “sinergia natural”, no entanto, entre os 6 estados mencionados, apenas dois assumem verdadeiro potencial de afirmação por esta via, Espanha e Portugal, com uma posição de superioridade face a Espanha.

Esta revisão de parcerias estratégicas, abre o potencial – a não ser cumprido como é tradição – para a afirmação económica portuguesa, como pilar na ligação ao dito “Sul-Global”, com base no aprimoramento estratégico da cooperação na CPLP, que representa um mercado superior a 290 milhões de consumidores, que assumiria benefícios mútuos para os seus integrantes e para a economia europeia de forma transversal, pelas diferentes necessidades sentidas nos diferentes territórios.

Das restantes, a que detém menor capacidade de êxito por via negocial, será a França, pela crescente contestação à sua influência e aceitação, em muito por via do neocolonialismo expresso na política monetária de diversos territórios, outrora franceses.

A dimensão da diversificação em função dos interesses geoestratégicos é complexa, mas talvez a opção mais adequada e com potencial de concretização, seja o estreitar de laços com a Índia, nações da América Latina, o mercado africano e com uma expansão comercial na Tailândia e Vietname.

A Índia, gigante em ascensão, é o mais versátil e interessante eixo para uma substituição das exportações europeias, com a especificidade de estar a atravessar um processo de transformação tecnológica e militar pertinente, que viabiliza indústrias europeias de valor acrescentado.

Um dos grandes problemas, é a já registada competição pela entrada no mercado indiano pelas grandes potências económicas, bem como, as especificidades internas do governo de Narendra Modi, que procura a redução de importações e adota políticas que rompem com os princípios e valores europeus, tornando-se o último uma possível limitação negocial, caso a moralidade europeia ultrapasse a necessidade socioeconómica.

A ideia da concorrência com base no preço, seria interessante, mas numa Europa de 2025 em competição com o mundo de 1929, pelos riscos e efeitos negativos da redução de custos generalizada num mundo onde o comércio global enfrenta bloqueios.

Diversificar não será tão fácil quanto isso e os líderes europeus esquecem-se de que o comércio não é um monólogo, é antes um diálogo, também ele condicionado por fatores geopolíticos e sociais.