JOAQUIM MOEDAS DUARTE: «Uma nota solta»
No Badaladas de 11 de Julho de 2025 li um pequeno artigo de Sérgio Tovar de Carvalho, intitulado “Três notas soltas”. Apreciei a escrita, pelo estilo directo e escorreito, temperado por fino sentido de humor – a que o autor já me habituou em muitos outros escritos. Este artigo segue o padrão.

As notas soltas são o seu comentário a três situações que lhe parecem absurdas. A segunda nota refere-se a um artigo meu, publicado neste jornal, em 20 de Junho p.p., que intitulei “Badaladas na encruzilhada”, no qual eu referia, mais uma vez, a vontade de a Fábrica da Igreja Paroquial de S. Pedro e Santiago vender o jornal Badaladas. Naturalmente, sinto-me encorajado a comentar.
Surpreendeu-me a surpresa de Sérgio Tovar, colaborador habitual deste jornal, que parece não se ter dado conta do problema do Badaladas já tantas vezes abordado nas suas páginas, nestes últimos dois anos, por mim, pelo Director e por dois ou três leitores. Na verdade, eu nem devia surpreender-me, habituado que estou à indiferença geral. Salvo raras excepções, que louvo e elogio, parece que a sorte do Badaladas – jornal que completou 77 anos de existência, em Maio passado, o que faz dele Património Cultural único – é indiferente à comunidade torriense. Onde estão os leitores mais velhos que tanto conhecem a História do jornal e que privaram com o seu fundador? Que pensam os autores habituais, que escrevem nas suas páginas, acerca da situação aflitiva do jornal?
Mais grave parece-me a indiferença e a inacção da comunidade católica torriense. Pois quê? Desconhecem o propósito e o impulso do seu fundador, P. Joaquim Maria de Sousa? É-lhes indiferente a caminhada de tantas décadas, com centenas de colaboradores, com milhares de páginas que são memória local torriense? Fazem parte daqueles que usam óculos com lentes de madeira e acusam o jornal de tudo e mais alguma coisa – ser de esquerda, de direita, de voz do poder autárquico, de amiguismo, de incompetência, sei lá que mais? Acham que o jornal devia ser, sobretudo, um boletim paroquial, circunscrito à vida da Igreja, sem se imiscuir na vida profana?
E os responsáveis directos pelo jornal, que continuam mudos e quedos – a Fábrica da Igreja e a Administração – não têm nada a dizer? Será que não entendem que o seu mutismo pode ser interpretado como falta de consideração pelos leitores?
Voltando ao texto de Sérgio Tovar, fez-me sorrir com gosto, quando pergunta se os sinos da igreja também podem ser vendidos, ou as hóstias da missa, ou os paramentos litúrgicos. Pelo teor destas perguntas tão cruas percebemos quão absurdo é, para o autor, a venda do jornal.
Pessoalmente, gostava que alguém respondesse às questões postas por Sérgio Tovar e a todas as outras que aqui coloquei. Tais respostas significariam interesse e preocupação e alimentariam a esperança de que este jornal não está condenado ao desaparecimento.