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ÁLVARO COSTA DE MATOS: «Tempo Presente» (Artigo 118)

“O Governo vem, talvez inconscientemente, fazer a demonstração freudiana do que vai na profundeza da alma dos seus máximos dirigentes: o Chega é, oficialmente, o grande pavor do PSD. Depois de ter remetido à condição de terceiro partido um PS que precisará de algum tempo para recuperar do seu desnorte estratégico, o receio maior é que o partido de Ventura possa agora engolir todo o eleitorado do centro-direita.”

**Pedro Norton – “Vale a pena debater a nacionalidade?”, in Público (15 Julho 2025)
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6 min de leitura
Foto: Marina Baginha
Foto: Marina Baginha

3 de Julho

Na corrida às candidaturas presidenciais, a retirada de cena de Augusto Santos Silva abre a porta a Sampaio da Nóvoa. Já com António José Seguro no terreno, à esquerda intensificam-se as conversas sobre a viabilidade da candidatura de Nóvoa e este é visto como o momento para o antigo reitor avançar. Será esta a “personalidade independente oriunda da sociedade civil” capaz de unir toda a esquerda? Eduardo Ferro Rodrigues, antigo líder do PS, é o primeiro socialista a expressar apoio a Nóvoa, que se mantém em reflexão sobre as presidenciais. À direita, depois de ter revelado, numa entrevista ao Observador, que está a ponderar uma candidatura à Presidência da República e de ter assumido o “conforto” que teria se recebesse apoio do partido liderado por André Ventura, o Major-general Isidro Morais Pereira cancelou a reunião com o Chega, recusando explicar a decisão. Qual o sentido desta candidatura?

 

3 de Julho

Diogo Jota e André Silva morreram num acidente de carro em Espanha. Silva tinha acabado de se licenciar em Gestão e jogava na Segunda Liga. Jota, o jovem “humilde, resiliente, fiel, adorável” que deu o exemplo a todos, jogava no Liverpool e na selecção nacional e tinha acabado de se casar com a mãe dos três filhos. A notícia da morte deixou em choque o mundo do futebol — o mundo mesmo: centenas de adeptos ingleses apressaram-se a deixar homenagens ao “lad from Portugal” junto aos estádios do Liverpool e do Wolves; figuras do futebol e do desporto lembraram “o atleta respeitado por todos” que tinha “uma alegria contagiante”; e o acidente foi destaque nos principais jornais internacionais. R.I.P.

 

7 de Julho

Com as mudanças súbitas dos EUA no apoio à Ucrânia, Volodymyr Zelensky foi em busca de alternativas para garantir que o país não fica sem capacidade de resposta na guerra contra a Rússia. Não de uma, mas de quatro alternativas: investimentos internos na indústria de Defesa, parcerias internacionais (com os EUA à cabeça), sinergias com potências europeias e compras (directas ou intermediadas pela Europa) de meios e equipamentos a Washington. Serão suficientes para inverter o rumo desfavorável da guerra?

 

9 de Julho

Esperam-se mudanças no próximo ano lectivo quanto ao uso dos smartphones nas escolas e aos manuais digitais. Até ao 6.º ano de escolaridade, os telemóveis que não sejam dumbphones — ou seja, apenas com funções básicas de enviar mensagens e fazer telefonemas — estão proibidos entre os alunos, com poucas excepções. Além disso, os manuais digitais só poderão ser usados a partir do 5.º ano e sob determinadas condições. Importa avaliar a eficácia destas decisões no desempenho dos alunos.

 

9 de Julho

Foi apresentado na Faculdade de Letras de Lisboa um novo livro sobre um dos maiores historiadores portugueses do século XX: Jorge Borges de Macedo: História e Inquietação, publicado pelas Edições CH – ULisboa. Pela diversidade da colaboração reunida, é um contributo importante para o conhecimento de uma “obra centrada na experiência histórica nacional”, desde a especial atenção que JBM dedicou ao século XVIII, com obras marcantes na historiografia portuguesa como A Situação Económica no Tempo de Pombal (1951), até aos séculos XIX e XX, sem esquecer as incursões no tempo medieval. O livro está dividido em duas partes: “Uma história poliédrica”, ajustada ao modus faciendi de JBM, que tanto se interessou pela economia, como pela política, sociedade, cultura e mentalidades, na defesa de uma história global, baseada no irredutível concreto vivido – colaboro nesta parte com um ensaio sobre a problemática da história local e regional na historiografia macediana; “Testemunhos” de pessoas que privaram de perto com JBM e que são preciosos para compreender o obra e a acção de JBM como intelectual, historiador e professor.

 

11 de Julho

O que está verdadeiramente em causa com a reprivatização da TAP? Há três certezas: a venda de 49,9% da companhia aérea é apenas a primeira fase; será impossível recuperar o total do valor investido pelo Estado; e Carlos Oliveira, antigo secretário de Estado do Governo de Passos Coelho, será o novo presidente não executivo da empresa. Mantendo-se o hub de Lisboa e as rotas consideradas estratégicas nada desaconselha a privatização total da TAP!

 

12 de Julho

Falo aqui de um outro livro, agora disponível em português: Crashed: Como uma década de crises financeiras mudou o mundo, de Adam Tooze, historiador e especialista em crises financeiras. Tooze analisa os impactos da crise de 2008 e a interligação entre economia, política e mercados globais, destacando as consequências sistémicas de um acontecimento que alterou profundamente o funcionamento do sistema financeiro. O historiador explora como a desregulamentação do sector financeiro e a expansão do crédito criaram o ambiente propício ao colapso. A complexidade e opacidade dos instrumentos financeiros mascararam os riscos subjacentes, tornando a crise inevitável. Quando o sistema ruiu, as respostas dos governos e bancos centrais foram decisivas, mas também controversas. O livro examina estas respostas, o impacto desigual da crise e as políticas de austeridade que marcaram a recuperação, especialmente na Europa. O autor dá-nos ferramentas preciosas para compreender as vulnerabilidades que crises como estas expõem, ajudando ainda a compreender os riscos geopolíticos actuais. Recomento vivamente esta leitura a todos os que desejam aprofundar a compreensão das crises financeiras e do impacto que têm nas nossas vidas. Como Tooze nos lembra, compreender o passado é essencial para moldar um futuro mais resiliente e sustentável.

 

14 de Julho

José Luís Carneiro desafiou o primeiro-ministro a negociar com os socialistas uma proposta de “Acordo Estratégico para um Plano de Desenvolvimento Nacional e de Capacitação da Defesa”, mas criticou o anúncio surpresa de Portugal na Cimeira da NATO, em Haia, sobre o aumento do investimento em Defesa para 2% do PIB este ano e 5% até 2035. Carneiro defende que decisões desta dimensão exigem consenso político alargado e apela à criação de um grupo de trabalho PS/PSD. Isto, numa altura em que Portugal se prepara para a criação de uma fábrica de munições de pequeno calibre, a funcionar em Alcochete, projecto que será apresentado ao Governo nos próximos meses, tendo um custo avaliado de 40 milhões de euros. O cumprimento do compromisso assumido por Portugal na Cimeira da NATO pede um alargado apoio social e político, de preferência com outras forças políticas. Já agora, porque não um acordo de regime na educação, na saúde ou mesmo na fiscalidade sobre empresas e pessoas?

 

15 de Julho

Tinha prometido um “anúncio muito grande”. E cumpriu. Donald Trump apresentou um pacote de ajuda militar a Kiev e ameaçou a Rússia com taxas aduaneiras de 100% se Moscovo não chegar a um acordo de paz em 50 dias. É uma reviravolta face à posição que vinha assumindo sobre a guerra na Ucrânia desde que é presidente dos EUA. O que motivou esta viragem? Da frustração com Putin à intervenção dos aliados, até o guarda-roupa de Zelensky contribuiu para esta decisão inédita. A longo prazo, a Europa deve garantir menor dependência das mudanças de direcção de Trump na política externa.