CARLOS MIGUEL: «Comércio tradicional a definhar»
O Comércio tradicional na zona histórica da cidade está a definhar. Ignorar tal realidade é pôr a cabeça na areia e não procurar soluções para a resolver ou minimizar, na certeza de que o comércio é e será o principal factor de vida de um centro urbano.

A Rua 9 de Abril, uma das ruas mais pujantes da cidade, é o paradigma do que se acaba de afirmar: dos vinte e nove estabelecimentos comerciais existentes, quinze estão abertos ao público, embora alguns deles com serviços e não com comércio, e catorze estão de portas fechadas. Quase meio por meio.
Este não é um problema de Torres Vedras, pois cidades como Coimbra e Caldas da Rainha lançaram recentemente programas de apoio ao comércio nas suas zonas históricas. Mas o facto de não estarmos sós não nos deve confortar mas sim desinquietar.
Mais do que procurar razões, o importante será discutirmos soluções.
Tenho um amigo comerciante que, sempre que se cruza comigo, repete que a solução passa por abrir ao trânsito o Largo de São Pedro no sentido norte-sul. Se assim fosse, era fácil e barato resolver o problema.
Julgo que não passa por aí a solução, nem acredito em soluções pontuais, mais ou menos populares, mas sem qualquer consistência a médio e longo prazo.
A solução passará por um conjunto de medidas, continuadas no tempo, que envolvam os comerciantes, através da ACIRO, a Câmara Municipal, as associações culturais da cidade e a população torriense, pois, sem ela a dar preferência ao comércio local, não há programa ou campanha que resulte.
Mas que medidas?
É imperioso pôr as pessoas a falar e ouvir o que têm a dizer, sejam comerciantes, sejam fregueses.
Esta deverá ser uma discussão rápida e limitada no tempo, por forma a podermos partir para a acção sem demoras.
Caso este texto sirva para o início dessa discussão, já é um bom passo.
Nos programas das duas cidades anteriormente referidas, verifica-se que os mesmos assentam na criação de uma plataforma online comum a todo o comércio tradicional da zona e um sistema de entregas único, em colaboração com a Câmara Municipal.
Julgo ser uma medida ajuizada, uma vez que a compra e venda de produtos transformou-se muito e as vendas pela internet são o presente e o futuro.
Porem, sem uma actualização, animação e promoção do sítio/plataforma de forma continuada, será uma medida que funcionará enquanto for novidade e rapidamente passará ao esquecimento.
Por sua vez, a formação/actualização dos comerciantes ao nível das técnicas de compra e venda, da informática e do vitrinismo é importante e fazível em parceria entre a ACIRO e o IEFP, contribuindo para que as montras tenham a vivacidade que hoje não têm.
Também a animação do espaço público é determinante como forma de trazer pessoas à rua para serem surpreendidas e onde possam encontrar as lojas abertas e um sorriso atrás do balcão.
Neste pilar, a Câmara Municipal terá um papel importante, com a envolvência das associações, com intervenções artísticas em íntima ligação com os comerciantes da zona histórica e com a regularidade e um horário que cative o público, sem interferir muito com a sua vida quotidiana.
Se estabelecermos, por exemplo, que na primeira sexta-feira de cada mês, entre as 19h e as 20h, irá haver animação de rua e o comércio estará aberto com montras renovadas, os torrienses terão uma boa motivação para passearem pelas ruas do centro histórico.
Tudo isto terá de ser acompanhado por uma forte campanha promocional que não se limite aos órgãos de comunicação locais, mas que extravase para a comunicação nacional.
Ao nível fiscal, a Câmara Municipal não pode ficar alheada desta realidade e deve usar meios legais de que dispõe para agravar ao máximo o IMI das lojas que estão desocupadas, bem como reduzir o IMI das que se encontram em funcionamento.
Por último e, provavelmente, mais discutível, o Município deve criar um programa de apoio a jovens comerciantes que se instalem no Centro Histórico, financiando uma parte da renda, de forma gradativa e nos primeiros três ou quatro anos de contrato, como incentivo à instalação e renovação do comércio existente.
A estas medidas, outras se poderão somar de forma integrada, contribuindo para uma solução de parceria, com a certeza de que se não houver a colaboração empenhada de todos e a adesão dos torrienses às compras na sua terra, nada funcionará e, no futuro, onde hoje são lojas amanhã serão habitações e de uma cidade com vida passamos a uma cidade dormitório.
Vamos pensar em conjunto e agir concertadamente.
É urgente.