ÁLVARO COSTA DE MATOS: «Tempo Presente» (Artigo 111)
“Todas as mediações tradicionais que funcionavam ao lado das democracias, família, igreja, partidos, sindicatos, media de referência, saber científico, primado da lei, estão a ser substituídas pela selvajaria das redes sociais, pela desinformação e pelo espelho do mal, muito mais poderoso do que o do bem.”
José Pacheco Pereira – “Confissões de um iluminista céptico”, in Público (5 Abril 2025)

27 de Março
“Não temos de ser pobres”. É o título de um longo artigo de Gouveia e Melo, que tem liderado as sondagens para as presidenciais, publicado no semanário Sol. É uma espécie de programa político para as eleições legislativas, com avisos aos partidos. Diz que a estagnação pode favorecer soluções “simplistas”. E defende menos impostos, mais habitação e uma imigração humanista.
31 de Março
A “guilhotina judicial” decapitou Marine Le Pen. E agora? Condenada em tribunal e impedida de se candidatar a cargos públicos, logo às presidenciais, a líder da União Nacional vê o seu sonho político ruir. O partido irá apostar em Jordan Bardella — e na radicalização. Já há quem fale na “Trumpificação” da campanha de 2027. Mas como escreveu Francisco Mendes da Silva no Público, “Le Pen foi engolida pela turba que ela própria criou”, leia-se o seu discurso contra a natureza venal e corrupta dos políticos!
2 de Abril
Pedro Duarte confirmou a sua candidatura à Câmara Municipal do Porto. O anúncio foi feito pelo próprio ministro dos Assuntos Parlamentares através de um artigo de opinião publicado no Jornal de Notícias. A decisão de avançar com uma candidatura à Câmara do Porto foi “ponderada com muita racionalidade, mas tem um lado de grande afetividade”: “Nasci no Porto, vivi no Porto, tenho aqui as pessoas que me são mais próximas”, explicou, em declarações feitas no Mercado do Bolhão, onde estava para participar no Conselho de Ministros. “A segurança, com criminalidade inaceitável; a mobilidade, com trânsito intolerável; e a habitação, com preços incomportáveis, são desafios urgentes que exigem respostas novas e eficazes”, numa indirecta aos actuais autarcas da invicta. Consequentemente, não será candidato às eleições legislativas.
3 e 4 de Abril
Donald Trump revelou a tabela de tarifas aduaneiras a aplicar: os EUA avançam com 20% de taxa a produtos europeus. O presidente norte-americano diz que são tarifas “generosas”, porque a União Europeia cobra 39% aos produtos norte-americanos. Esta disse estar preparada para responder em conformidade. Quanto aos produtos vindos dos países que mais têm "roubado" os EUA, Trump anunciou que vão pagar tarifas pesadas: perto de 50% em alguns casos. No dia seguinte, tivemos a consequência imediata das taxas alfandegárias que os EUA vão aplicar a partir de 5 de Abril: a queda das bolsas, a maior queda desde 16 de Março de 2020, com a crise da Covid-19. 3 biliões de dólares foram varridos de Wall Street, com particular incidência na queda das big tech. A reacção das bolsas poderá ter efeito sobre Trump que elogiou o desempenho do mercado no seu primeiro mandato. Muitos dos seus amigos e aliados estão em Wall Street. Mas há outro factor que poderá travar algum ímpeto. É que em 2026 haverá eleições intercalares nos EUA. As taxas foram mais abrangentes e com valores mais agravados do que o que se esperava. O cálculo feito para definir as taxas é básico e até há quem o considere ilegal. Certo é que os países tiveram vários graus de agravamento, com alguns dos aliados americanos a serem mais poupados. O Reino Unido, por exemplo — e muitos britânicos acabaram por agradecer ao Brexit.
7 de Abril
O PS é, para já, o único partido que apresentou o seu manifesto eleitoral. Colocou várias novidades face ao programa do ano passado. E uma delas é a entrega a cada criança nascida a partir deste ano de 500 euros em certificados de aforro, só movimentáveis aos 18 anos, que os socialistas chamaram de pé-de-meia. Uma ideia que tem semelhança com a herança social do Livre, que fez notar isso mesmo. Mas há mais no programa do PS. Descida do IUC, do IVA da electricidade e isentar alguns bens alimentares de IVA de forma permanente. E, depois de conseguir acabar com a cobrança em grande parte das autoestradas SCUT do interior e do Algarve, o PS volta à carga com o fim de mais portagens: a proposta do programa eleitoral entra no território da Brisa, principal concessão rodoviária nacional, ao prever a eliminação das portagens na A6 (entre Marateca e Elvas) e na A2 (no troço entre Marateca e Messines). A ideia dos socialistas é limitar a isenção de portagens ao tráfego local, deixando de fora o tráfego de atravessamento. O PS contabiliza as suas medidas ao mesmo nível do custo da descida do IRC da AD. No cenário macroeconómico inscreve a possibilidade de Portugal voltar aos défices em 2026 — e dá como argumento o impacto do PRR. A apresentação do PS, levou Luís Montenegro a comparar Pedro Nuno Santos a José Sócrates, acusando o líder socialista de “à boa maneira de um ex-primeiro-ministro, prometer tudo a toda a gente”. Castro Almeida, ministro adjunto e da Coesão Territorial, criticou igualmente o programa socialista por ser "insustentável do ponto de vista orçamental". Seria uma "receita para desastre" se fosse implementado, disse. A procissão ainda vai no adro…
8 de Abril
Apesar do “pânico nas bolsas”, Donald Trump mantém-se firme na questão das tarifas. E não demonstra querer recuar. Na Sala Oval, explicou que rejeita a ideia de uma pausa, bem como a proposta que lhe foi feita pela União Europeia. Horas antes, já tinha ameaçado a China com uma taxa adicional de 50%. A guerra comercial declarada por Trump acabaria por ter novos desenvolvimentos, e nem falo do ataque de Elon Musk ao “arquitecto” do plano tarifário do Presidente dos EUA ou, sequer, da desilusão de multimilionários norte-americanos com o que tem acontecido nos últimos dias — falo do movimento em massa dos cerca de 70 países que já tinham abordado os EUA para negociar, one on one, a questão das tarifas. Na frente asiática, Trump decidiu avançar com uma tarifa adicional sobre os produtos chineses, que fez disparar para 104% as tarifas sobre importações chinesas, uma resposta à não resposta de Pequim perante a exigência de Washington para que retirasse as suas tarifas de retaliação sobre produtos com origem nos EUA. Neste confronto comercial directo entre as duas potências mundiais, qual é a estratégia de Trump?
9 de Abril
Em jeito de resposta à decisão de Trump de impor tarifas às importações de aço e alumínio europeus, a União Europeia (UE) aprovou, por maioria, a aplicação de tarifas de 25% a produtos norte-americanos. A aplicação destas tarifas às exportações dos EUA terá um valor de mais de 22 mil milhões de euros, de acordo com as importações feitas em 2024 para os países do bloco comunitário. Mas no total o valor poderá ascender aos 26 mil milhões de euros, equiparando as consequências das tarifas que Washington aplicou aos 27 países do bloco comunitário. Apesar de tudo, Bruxelas insiste na "preferência clara por uma solução negociada com os EUA, que seja equilibrada e com benefícios mútuos", considerando as tarifas injustificadas e prejudiciais, com consequências nefastas para os dois lados, assim como para a economia global. E deixou um alerta a Washington: "Estas contramedidas podem ser suspensas em qualquer momento, se houver um acordo com os EUA para uma solução justa e negociada." Ou seja, passou o problema para Trump!