Penúltima etapa da Volta a Portugal em Bicicleta dedicada à região Oeste
Da Maia à capital, passando pelas icónicas montanhas no coração do país, a 86.ª Volta a Portugal em Bicicleta voltou a afirmar-se como a prova rainha do calendário velocipédico nacional. Entre os dias 6 e 17, foram quase 1.598,7 quilómetros que colocaram à prova a resistência do pelotão nacional, num traçado exigente que combinou montanha, etapas nervosas e o contrarrelógio da consagração em Lisboa.

O prólogo da Maia foi, como expectável, um total domínio por parte de Rafael Reis, seguido de tiradas animadas por Nicolás Tivani em Braga e Pau Martí em Fafe. A Volta ganhou intensidade com as primeiras montanhas, até ao dia em que o fogo se intrometeu no desporto: na quarta etapa, entre Bragança e Mondim de Basto, os incêndios na serra do Alvão obrigaram a neutralizar a corrida a cerca de 51 quilómetros da meta. O pelotão foi parado, agrupado, tendo a corrida reatado na Campeã. Joaquim Gomes, diretor da Volta, salientou a enorme complexidade da tomada de decisão no curto espaço de tempo existente, no entanto a Volta não defraudou os milhares de espectadores que estavam em Mondim de Basto, naquela mancha humana característica e ao longo da subida.
Recordemos que a última neutralização aconteceu na Volta de 2016, aquando de um erro de percurso do pelotão, a 16 quilómetros da linha de chegada em Arruda dos Vinhos.
Se o fogo marcou a etapa do Alvão, foi o Oeste que ofereceu a derradeira oportunidade de festa popular. A última etapa em linha, cruzando terras de vinha e mar, entre Caldas da Rainha e o alto da serra de Montejunto, passando pelas terras de Agostinho, João Roque, Hernâni Broco, Orlando Rodrigues, Jorge Silva e tantos outros ilustres do Oeste, confirmou a força da região na história do ciclismo. Ao longo de largas dezenas de quilómetros, o público respondeu em massa, enchendo as estradas, num ambiente de romaria que devolveu à Volta a imagem de grande espetáculo popular, mostrando que a mesma permanece viva. Foi uma tirada nervosa, disputada até ao último metro, que coroou o argentino Nicolás Tivani na consolidação da camisola verde por pontos. O alto de Montejunto, onde a Volta não pisava há 42 anos, ofereceu-se como palco ideal para fechar o capítulo das etapas em linha, provando que o Oeste continua a ser uma das regiões mais entusiastas da modalidade.
No contrarrelógio final, entre a Praça do Império e Algés, Rafael Reis voltou a brilhar, mas a amarela já tinha dono certo: Artem Nych (Anicolor/Tien21), que confirmou o bicampeonato com o tempo total de 38h31m46s. O francês Alexis Guérin (Anicolor/Tien21) foi segundo, a 1m15s, e o sul-africano Byron Munton (Feirense/BeeCeler) fechou o pódio.
Nas classificações secundárias, a camisola da montanha foi para Hugo Nunes (LA Alumínios/Credibom/Marcos Car), a verde para Nicolás Tivani (Aviludo-Louletano/Loulé Concelho) e a branca da juventude para Lucas Lopes (Rádio Popular/Paredes/Boavista). Coletivamente venceu a Anicolor/Tien21.
Findos os quilómetros, fica a memória de uma Volta quase sem brilho, marcada pela dureza do território, por algumas decisões difíceis, e algo polémicas, do Colégio de Comissários, pelos imprevistos de um país fustigado pelo fogo, mas também pela alegria das gentes do Oeste que, ao receberem a última etapa em linha, mostraram que o efémero espírito do espetáculo velocipédico continua vivo à porta dos portugueses.
A prova rainha voltará no próximo ano às estradas deste país a um ano do seu centenário.
A rainha resiste nas estradas, mas o reino do ciclismo português exige mais do que passado; precisa de reflexão para que o futuro encontre a sua luz ao fundo do túnel.
Classificações: Geral individual: 1.º Artem Nych (Anicolor/Tien21), 38h31m46s; 2.º Alexis Guérin (Anicolor/Tien21), a 1m15s; 3.º Byron Munton (Feirense-BeeCeler), a 1m51s; 4.º Jesús Peña (AP Hotels & Resorts/Tavira/SC Farense), a 2m24s; 5.º Tiago Antunes (melhor português) (Efapel Cycling), a 3m14s; 6.º Pedro Silva (Anicolor/Tien21), a 4m32s; 7.º Edgar Cadena (Petrolike), a 4m42s; 8.º Emanuel Duarte (Credibom/LA Alumínios/Marcos Car), a 4m45s; 9.º Lucas Lopes (sub-23, melhor português jovem) (Rádio Popular/Paredes/Boavista), a 5m30s; 10.º Adrián Bustamante (Gi Group Holding/Simoldes/UDO), a 5m31s; (…) 96.º Angus Miller (TOM 6 Bikes Decca), a 3h19h26s. Geral Pontos: 1.º Nicolás Tivani (Aviludo-Louletano/Loulé Concelho), 130; 2.º Artem Nych (Anicolor/Tien21), 66; 3.º Francisco Campos (AP Hotels & Resorts/Tavira/SC Farense), 65. Geral Montanha: 1.º Hugo Nunes (Credibom/LA Alumínios/Marcos Car), 70 pts; 2.º Nicolás Tivani (Aviludo-Louletano/Loulé Concelho), 65; 3.º Artem Nych (Anicolor/Tien21), 41. Geral Juventude: 1.º Lucas Lopes (Rádio Popular/Paredes/Boavista), 38h37m16s; 2.º Zachary Marriage (Israel Premier Tech Academy), 38h37m39s; 3.º Jack Makohon (Team Skyline), 38h52m38s. Prémio Combinado: 1.º Artem Nych (Anicolor/Tien21), 7 pts. Geral Equipas: 1.º Anicolor/Tien21, 115h37m18s; 2.º Efapel Cycling, a 13m40s; 3.º AP Hotels & Resorts/Tavira/SC Farense, a 19m42s.