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Estudo sobre a Censura a partir do caso do Badaladas deu origem a iniciativas municipais

O estudo da Censura em Portugal durante o Estado Novo, a partir do caso do jornal torriense Badaladas, efetuado pelo investigador e professor universitário Álvaro Costa de Matos (HTC - CFE - NOVA - FCSH), deu origem a três iniciativas do Município de Torres Vedras integradas no programa que tem estado a levar a cabo para comemorar a “Revolução dos Cravos”.

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Foto: Joaquim Ribeiro
Foto: Joaquim Ribeiro

Uma dessas iniciativas é a exposição documental Censura e Opinião Pública no Estado Novo: o caso do Badaladas (1948-1974), a qual foi inaugurada no passado dia 30 de abril na Biblioteca Municipal de Torres Vedras; outra foi a conferência Censura e Opinião Pública no Estado Novo - Aproximação ao problema a partir do Badaladas (1948-1974), a qual aconteceu ao final da tarde do passado dia 3 (Dia Mundial da Liberdade de Imprensa), também na Biblioteca Municipal de Torres Vedras, proferida pelo referido historiador.

Na ocasião Goreti Cascalheira, diretora da Biblioteca Municipal, referiu que este conjunto de iniciativas é também “uma homenagem a todos os jornalistas que trabalham e trabalharam no jornal Badaladas e que continuam a fazer o seu trabalho isento e independente”.

Teve lugar ainda uma oficina denominada “Imprensa, Censura e Opinião Pública em Portugal (1948-1974)”, que se realizou esta quarta-feira, dia, pelas 16h, igualmente na Biblioteca Municipal e também dinamizada por Álvaro Costa de Matos, a qual partiu de uma visita-guiada à referida exposição e da “leitura” de fontes primárias das práticas censóricas sobre o Badaladas, para posteriormente se discutir a política de informação do Estado Novo.

A investigação que deu origem a estas iniciativas tem a sua génese na preparação de uma conferência que se realizou no âmbito das comemorações do 75.º aniversário do Badaladas, a qual levou Álvaro Costa de Matos aos arquivos deste periódico, onde se deparou com fontes históricas inéditas, as quais constam na exposição Censura e Opinião Pública no Estado Novo: o caso do Badaladas (1948-1974). Esta mostra é igualmente constituída por painéis explicativos, os quais se dividem em cinco núcleos temáticos: Legislação; Repressão; Autocensura; “Construção”; e “Desobediência Civil”.

Na inauguração da exposição, Álvaro Costa de Matos referiu que a política de informação do Estado Novo foi um pilar fundamental deste regime político, a qual explica a durabilidade do mesmo, sendo que essa política tinha duas vertentes que se complementavam: uma repressiva, no sentido de evitar a publicação de notícias, informações ou artigos de opinião que pudessem perturbar a ordem política e social; e uma “construtiva”, orientada para a tentativa de formar um “bloco de opinião nacional” favorável ao regime vigente. Para este último desiderato, o Secretariado Nacional de Informação (SNI) enviava artigos para os jornais locais e regionais que tinham de ser publicados por obrigatoriedade legal, o que, no caso do Badaladas, não aconteceu por diversas vezes, segundo Álvaro Costa de Matos.

De resto, por esta razão, e por outras, como por ter dado espaço ao debate de temáticas polémicas, o que não acontecia nos jornais de âmbito nacional, o Badaladas conseguiu durante o Estado Novo manter uma imagem de pluralismo e abertura, não obstante ter tido práticas de autocensura, explicou também o investigador e curador da exposição. Neste capítulo mereceu elogios o padre Joaquim Maria de Sousa, fundador e diretor do Badaladas durante o Estado Novo, pela coragem de não publicar alguns artigos enviados pelo SNI.

Na inauguração de Censura e Opinião Pública no Estado Novo: o caso do Badaladas (1948-1974) marcou igualmente presença a vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Torres Vedras, Ana Umbelino, que na ocasião enquadrou a mostra num conjunto de outras de caráter municipal que estão atualmente patentes em Torres Vedras e que pretendem levar a população a compreender o que foi a Revolução de 25 de Abril de 1974 e o regime político que foi extinto com esse histórico acontecimento. Ainda segundo Ana Umbelino, a exposição permite, por um lado, identificar estratégias ainda hoje utilizadas para moldar a opinião pública, e por outro, aprofundar o conhecimento sobre a história do jornal Badaladas, uma instituição que tem desempenhado um papel de relevo no seio da comunidade torriense.

Censura e Opinião Pública no Estado Novo: o caso do Badaladas (1948-1974) é uma mostra que conta com a parceria institucional não apenas deste jornal, mas também da Hemeroteca Municipal de Lisboa, e que pode ser visitada até ao próximo dia 20.