EDITORIAL | Trabalho extra para os membros das mesas
As eleições são o instrumento base de uma democracia. É a forma de o povo escolher os seus representantes na gestão de uma entidade pública, onde se tomam decisões que influenciam a vida de todos. Pode ser apenas representativa, como a Assembleia da República ou, a nível local, as assembleias municipais e de freguesia ou, ainda, a nível internacional, o Parlamento Europeu. Mas o povo também elege os órgãos executivos, como as câmaras municipais, e, indiretamente, o Governo e os executivos das juntas de freguesia. Tal como acontece com o Presidente da República e ainda os governos regionais dos Açores e da Madeira.
São muitas eleições, acrescidas de intercalares, como acontece algumas vezes nas freguesias, ou quando um órgão não completa o seu mandato, como é o caso do atual Governo, que caiu com a reprovação da moção de confiança apresentada esta semana no Parlamento, sendo dissolvida a Assembleia da República antes do fim do mandato, tal como tinha acontecido com a anterior legislatura.
Só este ano serão três. Já no próximo dia 23 decorre a eleição para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira. Entre 11 e 27 de maio haverá lugar a novas eleições legislativas para a Assembleia da República, de onde sairá um novo Governo da nação. Em setembro ou outubro, como estava previsto, será a vez das eleições autárquicas. Em janeiro do próximo ano há nova eleição, para o Presidente da República.
Tudo isto envolve uma enorme máquina eleitoral, coordenada pela Comissão Nacional de Eleições, mas que envolve também autarquias e muitos membros das mesas de voto por todo o país. Cada mesa tem cinco elementos (presidente e o seu substituto, dois escrutinadores e um secretário), cabendo ao presidente um conjunto de responsabilidades, que começa na coordenação do ato durante todo o dia, antes da abertura das portas e após o seu encerramento (são 14 ou 15 horas de “trabalho”), e passa pela deslocação à Câmara Municipal do concelho para ir buscar e entregar os boletins de voto e restante documentação. No caso das eleições autárquicas a tarefa de entrega dos boletins cabe às juntas de freguesia e a recolha à GNR, nas restantes é o próprio presidente que executa essa tarefa. Nas últimas eleições europeias surgiu a novidade dos cadernos eleitorais em formato digital, que obrigou a formação prévia dos membros das mesas e o apoio técnico de informáticos.
É normal, por isso, que haja cada vez menos pessoas disponíveis para membros das mesas, apesar do pagamento de 50 euros e dispensa das obrigações profissionais no dia do ato e no seguinte. Mas estas pessoas são fundamentais para que possam decorrer eleições, sem elas era impossível. A não ser que se encontrem outras formas de recolher a opinião dos cidadãos. Até agora tem sido possível encontrar sempre alguém para fazer parte das mesas, graças também ao trabalho de escolha dos próprios partidos políticos, que convidam e indicam esses elementos.
Precisamos de estar agradecidos a todos os que fazem esse trabalho, porque são eles que permitem que se cumpra a democracia. Os outros cidadãos só precisam de tirar cinco minutos para exercerem o seu direito e dever como eleitores. Comparado com o trabalho que se faz nos bastidores, votar é apenas a parte mais fácil e nada justifica tão elevados índices de abstenção.