ARTUR DA ROCHA MACHADO: «Projetando as eleições presidenciais de 2026»
Após os resultados das eleições legislativas de 18 de maio de 2025, o panorama político-partidário apresentou uma configuração que surpreendeu quer os analistas políticos, quer os partidos. Tais resultados foram contra as previsões e expectativas de alguns partidos, sobretudo pela expressão numérica. O que aconteceu foi uma revolução. Mas, nada acontece por acaso. Algumas das forças políticas descansaram confiantes na tradição, esperando que tudo continuasse a marcha rotineira. Não perceberam que a mudança faz parte da vida societária e que urge estar atento aos sintomas que vão emergindo. É provável que as eleições de 18 de maio de 2025 venham a ter reflexos, quer nas eleições autárquicas de setembro de 2025, quer nas eleições presidenciais de 2026. Acrescenta-se que a perceção que os cidadãos têm da classe política, já teve melhores dias. Está desgastada e descredibilizada pelos sucessivos casos a que se tem assistido. A experiência política de que alguns políticos se arrogam é porque não perceberam que muitas vezes essa experiência se reduz a rotinas, sem qualquer valor acrescentado. Trata-se de meros automatismos sem outros predicados. Isso é um péssimo indicador, que reflete um pouco o que sucedeu com algumas forças partidárias. O que continua a suceder no debate entre políticos, é pautado pela tacanhez e apoucamento mútuo centrado em ataques pessoais e não na confrontação de ideias, projetos e propostas pessoais para os cargos a que se candidatam. Isso prova a falta de respeito pelos outros concidadãos candidatos. Atacar e apoucar pessoas em vez de discutir ideias é apanágio de autocratas e medíocres. Há que privilegiar o respeito mútuo e mudar estratégias de combate político.

Considerando as tarefas que esperam o futuro Presidente da República, delas emerge a restauração do prestígio e simbolismo da Instituição Presidência da República, por ser uma referência para os cidadãos. Cabe-lhe, por isso, a missão de acatar e cumprir aquelas que são as exigências do cargo, pois este tem regras que balizam o comportamento do seu ocupante e que os cidadãos esperam e apreciam que sejam cumpridas. Impõe-se dignificar a instituição Presidência da República.
Das candidaturas com real possibilidade de ocupar o cargo de Presidente da República surgiu a candidatura do Dr. Luís Marques Mendes que reúne o apoio do PSD. Este candidato optou por valorizar a sua experiência política, elegendo-a como diferenciadora de outros candidatos. Isso parece ser um erro, sobretudo num momento em que a classe política está tão fustigada e desprestigiada pelos cidadãos. Já ninguém se entusiasma com os políticos que temos. Marques Mendes não acrescenta nada de diferenciador, sobretudo no que concerne à ciência política, ou seja, ciência da administração da sociedade. É uma intervenção pobre e cheia de generalidades, que não atrai os cidadãos. Por outro lado, a tendência para atacar e desconsiderar outros, já candidatos, é uma péssima ideia. Uma verdadeira campanha política deve ser feita pela positiva, discutindo ideias e não pessoas. A imagem de comentador televisivo deu-lhe fama, mas não respeito, podendo mesmo jogar contra si. O país está cansado de comentadores banais. Quer dignidade. Quer sobretudo respeito. A candidatura do Almirante Gouveia e Melo surge em contraciclo e até contra a expectativa numa sociedade democrática. Esclarece-se, porém, que todo o cidadão é político por definição (Aristóteles), pois vive na polis ou cidade e, de algum modo, participa na sua gestão e desenvolvimento. Nesta definição, enquadram-se todo o tipo de candidaturas. As ainda poucas intervenções do Almirante Gouveia e Melo foram mais amplas, mais sóbrias, mais autónomas e preocuparam-se em elencar e contribuir para estabelecer uma orientação política, os grandes objetivos e uma estratégia para o país. Esta é uma visão que decorre da sua formação e experiência real. Como candidato, colocou-se num patamar de grandeza diferenciadora, quer em termos de independência partidária, quer em termos de abrangência teleológica. Não se pode ver o futuro olhando para a biqueira dos sapatos. O Almirante Gouveia e Melo poderá ter um papel relevante para o País e para a recuperação da dignidade e simbolismo da Instituição Presidência da República. O Dr. António José Seguro, agora candidato a Presidente da República, é uma personalidade que merece atenção pelo seu percurso político no Partido Socialista, do qual foi Secretário-Geral, tendo sido afastado deste cargo de forma pouco curial por António Costa. A sua grandeza moral revelou-se na forma como se afastou serenamente da vida política, seguindo caminho diverso, sem se afastar do PS. É uma personalidade serena e fiel às suas convicções. Surgiu como um candidato presidencial que aguarda expectante o apoio do seu partido (PS). Esperemos para ver o que sucede.