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PAULO GONÇALVES: «Acordai Homens que dormis»*

O concelho de Torres Vedras tem sido governado ao nível autárquico ao longo dos últimos 50 anos pelo PS. Os responsáveis deste partido fazem um balanço muito positivo do seu trabalho. Infelizmente essa apreciação não passa de uma construção virtual que não resiste ao mínimo confronto com a realidade. Piscinas municipais, várias vezes prometidas, não existem. A construção da Biblioteca Municipal não passou do papel. A rede de ciclovias concelhia é inexistente e a da cidade é um verdadeiro perigo quer para ciclistas, quer para automobilistas. São várias as escolas que passados anos a fio continuam a ter instalados contentores, apresentados na altura da sua introdução como “provisórios”. Transportes eficazes dentro do concelho (em quantidade e qualidade) continuam a ser uma miragem. A atividade cultural concelhia é raquítica.

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Uma nova abordagem na deposição do lixo em A-dos-Cunhados. Uma lixeira a céu aberto, mas devidamente resguardada dos olhares dos fregueses
Uma nova abordagem na deposição do lixo em A-dos-Cunhados. Uma lixeira a céu aberto, mas devidamente resguardada dos olhares dos fregueses

A título de exemplo, se for feita uma comparação entre o concelho de Évora, com cerca de 53 mil habitantes e o concelho de Torres Vedras, com mais de 83 mil residentes, constata-se uma diferença abissal na vida cultural. Basta ter presente que Évora vai ser Capital Europeia da Cultura em 2027 (título alcançado durante a gestão CDU). Mesmo se formos comparar apenas as agendas culturais de ambas as cidades, em qualquer momento do ano, Évora leva sempre, de forma muito destacada, a dianteira. Aliás, Torres Vedras, nem sequer faz parte das Capitais Portuguesas da Cultura.

Lares públicos para a terceira idade não existem. Ao nível da falta de médicos de família é escusado fazer comentários. Sobre a Linha do Oeste estamos agora a assistir à sua mais do que tardia requalificação, mas sem haver nenhuma garantia de, por exemplo, a mesma chegar a Loures para aí ser possível aceder à futura linha violeta do metropolitano.

Apesar de a lista ir já longa, são apenas alguns exemplos, da inércia da governação, dita socialista. Podia a situação ser pior, sim podia, não fosse em alguns casos a intervenção da sociedade civil e da própria CDU. A título de exemplo muitos recordar-se-ão de como os responsáveis autárquicos socialistas, e outros, estavam disponíveis para acolher de braços abertos, na zona de Paio Correia, lixo vindo de Espanha. Eufemisticamente chamavam-lhe “complexo ambiental” quando era de aterros de que se tratava. A defesa do interesse público e do bem-estar dos cidadãos tem dias. É caso para dizer que as rainhas e os reis vão nus.

Não menos extraordinária é a postura do candidato a presidente de Câmara da Associação Cívica Unidos em Movimento. São muitas as críticas que dirige aos líderes locais do PS e às políticas deste partido. No entanto, a pergunta que se coloca é sobre a legitimidade de tal atitude, sem reticências, quando, durante vários anos, integrou como vereador a governação socialista. Além disso, para quem nas últimas eleições autárquicas apresentava como vantagem ser independente de qualquer partido e no artigo 1º da referida associação se afirma que a mesma «é uma pessoa coletiva de direito privado, independente, sem fins lucrativos ou partidários»[1], é agora, no mínimo, estranho como o referido movimento, dito independente, está em comunhão com partidos como o Volt, o CDS-PP e o PPD-PSD.

A CDU apresenta-se a votos tendo por base três palavras simples: trabalho; honestidade e competência. Percebo que muitos nelas não se revejam e que a sua ação esteja longe de decorrer desses princípios. Outros valores se levantam.

*Excerto de poema de José Gomes Ferreira