LUCAS QUARESMA: «Força Nuclear»
O Armamento Nuclear é a conquista Humana mais prejudicial para a Sociedade pela desconsideração pelos impactos reais que ocupa. Por vezes, a dimensão nuclear passa-nos despercebida, passam-se meses em que não escutamos a terminologia, mas observamos, constantemente, os efeitos da sua posse, na altivez discursiva de quem sabe que poderia terminar com a vida no Planeta.

António Variações, na sua lírica politizada afirmava “Que culpa tenho eu se eles se querem suicidar”, a realidade dos efeitos da posse de armas nucleares é em boa medida bicéfala e em muito explícita na letra de Variações, pois a conceção do MAD (Destruição Mútua Assegurada) e a ausência de um conflito efetivo com recurso a este tipo de armamento nasce – não da pródiga benevolência do Governante para com os outros povos – mas do receio de aniquilação mútua – o suicídio que Variações invoca.
As normas e regulações na dimensão do Direito Internacional, como tantas vezes já aqui referi, são manifestações claras do voluntarismo estatal, pelo que os seus vínculos poucas capacidades manifestam na selva do poder, no entanto, refiro alguns pilares fundamentações do nuclear como o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) que impede a disseminação de armas nucleares, o START em constante revisão entre os EUA e a Rússia, bem como o INF Treaty.
A estes tratados e acordos, juntam-se conceções mais idealistas, as que beneficiariam verdadeiramente o Planeta e todos os seus habitantes como o Tratado de Proibição Total de Teses Nucleares (CTBT) de 1996 que não entrou em vigor e objetivava a proibição de testes nucleares em qualquer ambiente e o TPAN de 2017, legitimado por mais de 70 países, sem suporte de nenhuma potência nuclear que visa a proibição de armas nucleares.
Os efeitos da posse de armamento nuclear sentiram-se a partir de 1942 e 80 anos depois das bombas em Hiroshima e Nagasaki (1945), as dinâmicas internacionais foram radicalmente invertidas, com o critério demográfico a perder relevância na ponderação de confronto armado, bem como, na sua dissuasão, sendo o poder nuclear, a melhor garantia de defesa.
Os grandes atores globais que preservam o seu estatuto e preponderância, apesar de alguns estarem distantes do status de potência económica d’outrora, são os detentores de armamento nuclear em larga escala, que de acordo com a Union of Concerned Scientists em 2025 eram os EUA (5400[ogivas]/1744[ativas]), a Rússia (6000[ogivas]/1584[ativas]), o Reino Unido que objetiva 260 ogivas e possui 120 ativas, a França (290[ogivas]/280[ativas]) e a China (600[ogivas]/24[ativas]), correspondendo a consideração de “ativas” a pronto para lançamento.
Para além dos tradicionais cinco, outros estados não reconhecidos enquanto potências nucleares e detentores de armamento nuclear são a Índia (~172 ogivas), o Paquistão (~170 ogivas), Israel (~90 ogivas) e a Coreia do Norte, com um número desconhecido com classificado como entre 20-30 ogivas.
Este cenário, naturalmente alarmante, ganha um nova ímpeto quando consideramos a ambição assumida de expansão de armamento por parte do Reino Unido e da República Popular da China, e a modernização em curso por parte dos EUA e da Rússia, bem como, as considerações do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo, que afirma que o término do tratado bilateral de 2010 (New START) em fevereiro de 2026 entre a Rússia e os Estados Unidos, sem acordo ou negociação prévia, irá conduzir a uma nova corrida armamentista, devido às crescentes tensões internacionais.
Outros fatores, meritórios de justificação para o tema nuclear ser reintroduzido na agenda e combatido internacionalmente são os riscos acrescidos de um erro estratégico originar um confronto alargado, especialmente, entre EUA e China, O.T.A.N. e Rússia, Índia e Paquistão e Israel e Irão.
A disputa sobre Taiwan continua a intensificar-se, com o risco de erro de um cálculo militar no Mar do Sul da China a suscitar receios sobre um confronto entre China e Estados Unidos.
O conflito na Ucrânia invocou uma agressiva retórica nuclear russa desde 2022, com testagem de novos sistemas e armamento russo, bem como diversas ameaças nucleares por parte de Moscovo.
O caso de Israel e do Irão resultou numa guerra de 12 dias bastante recente, que julgo não ser definitiva, onde a ambição do programa nuclear iraniano, cujo estado atual efetivo, é desconhecido e alianças com superpotências nucleares, continuam a alimentar receios de acesso a armamento nuclear.
A Índia e o Paquistão, já aqui referi no artigo sobre o “Fantasma de Caxemira”, preservam uma relação complexa, com doutrinas nucleares sustentadas pelo ódio mútuo, sendo cada vez mais elevada a probabilidade de risco acidental.
A força nuclear nunca saiu da equação, mas regressou ao debate com força, trazendo consigo a loucura humana que Variações cantava e denunciava em 1983.