LUCAS QUARESMA: «Os Cravos murcham pela Europa»
Os Cravos que cobrem, com mais ou menos vivacidade, as ruas e o espírito dos democratas portugueses no dia 25 de Abril, enfrentam, tal como em Portugal, solos áridos, fruto de fatores vários.

Os especialistas no estudo da democracia – hoje, em grande medida, esvaziados de financiamento estatal norte-americano – apresentam três fenómenos que legitimam o crescimento de forças antidemocráticas, o 11 de setembro de 2001, a Crise Financeira de 2007-08 e a Crise Migratória da Europa de 2015.
A estes três fenómenos, acrescentaria a redefinição em curso da Ordem Internacional, pelas dinâmicas que comporta, tais como, conflitos comerciais, militares e discursos nativistas, que procuram galvanizar uma ideia de liderança legítima.
Esta conjetura de elementos origina fenómenos transversais de aceitação de radicalismos políticos, maioritariamente de Direita, como se tem vindo a registar no Continente Europeu.
Assistimos a uma multiplicação do suporte errante e inconsequente, motivado pelo descontentamento socioeconómico, por preconceitos e perceções, por considerações de insegurança e pela instabilidade político-governativa, onde movimentos com uma indubitável capacidade de comunicação, num domínio claro do discurso populista, surgem como solução.
O jardim europeu assiste, hoje, a canteiros cheios de cravos murchos, dos quais destacaria a Áustria, Alemanha, Bélgica, Eslováquia, França, Finlândia, Hungria, Itália e a Polónia.
Por terras austríacas, assistimos ao que é considerado o avô do radicalismo de direita europeia, materializado no FPO, liderado por Kickl e fundado por um antigo oficial nazi. É um partido com uma longa participação governativa, integrando 5 coligações governamentais desde a sua fundação.
Na gigante Alemanha, o passado histórico assume pouco peso na decisão eleitoral, com o AfD, reformado em 2015 e atualmente liderado por Alice Weidel, a consolidar-se como 2ª força política nas eleições de 2025.
Por sua vez, na Bélgica, o fenómeno concentra-se com maior relevância no Vlaams Belang, fundado em 2004 e liderado por Van Grieken.
Na Eslováquia, o partido SNS, fundado em 1990, assume-se como o mais notável movimento de direita, liderado por um não menos conhecido político, Andrej Danko, integra a coligação que governa o país desde 2023.
No outro gigante europeu, a França, o Rassemblement National, fundado em 1972 e liderado por Bardella, é dos partidos mais reconhecidos a nível internacional e dos mais influentes junto desta grande família política, muito pelo trabalho da família Le Pen. Foi o vencedor das eleições legislativas de 2024.
Na Finlândia, considerada uma das nações mais felizes do mundo, o PERUS, fundado em 1995 e liderado por Riikka Purra assume a representação do radicalismo de direita, sendo a 2ª força política desde as eleições de 2023 e integrando a atual coligação governamental.
A Hungria é o mais gritante caso de êxito na institucionalização destes movimentos a nível europeu, com o FIDESZ, reformado nos anos 2000, a governar em coligação com o KDNP, desde 2010. Viktor Orbán, é dos rostos maiores do radicalismo de direita, com 15 reformas constitucionais efetuadas entre 2011 e 2025.
Em Itália, o Fratelli d’Italia, fundado em 2012 é um movimento pós-fascista. Nas eleições legislativas de 2022, o partido liderado por Giorgia Meloni foi o mais votado, elegendo 119 deputados na Câmara dos Deputados (119/400) e 66 senadores (66/200). Atualmente governa em coligação com a Lega e o Forza Italia. Tem vindo a assumir-se como um rosto mais moderado na família política da direita radical, o que acaba por atribuir-lhe uma longevidade e maior aceitação internacional.
Na Polónia, o partido Lei e Justiça (PiS), fundado em 2001 e liderado por Jarosław Kaczyński governou a Polónia entre 2015 e 2023. Apesar de não governar a nação, continua a assumir um peso político relevante: liderava a coligação mais votada nas eleições de 2023 e mantém 161 lugares na Câmara Baixa (161/460) e 29 lugares no Senado (29/100).
O mais preocupante nesta enumeração de casos? É a extensão efetiva que estes movimentos ocupam dentro dos Estados, bem como, em Estados não referidos.
O mais dececionante? O facto do cidadão-eleitor, responsável pelo jardim da democracia, insistir em ignorar as suas responsabilidades no espaço comum.
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