Saltar para o conteúdo principal

Em Busca das Origens da Banda Desenhada

Banda Desenhada, Quadrinhos, História em Quadradinhos, Fumeto, Narrativa Gráfica, Tebeo, Manga, Comic…afinal o que é isso?

8 min de leitura
Imagem ilustrativa: Em Busca das Origens da  Banda Desenhada

Por cá começou por ser nomeada entre nós por “histórias em quadradinhos”, um ramo da literatura infantojuvenil ou, pior,  uma “literatura menor” para semianalfabetos.

Quem não se lembra do pregão que se ouvia pelas ruas de Lisboa, aí pelos anos 60 e 70 do século passado, “e quem não sabe  ler vê os bonecos”, para vender revistas populares de “quadradinhos”, como o “Falcão”, o “Condor” ou o “Mundo de Aventuras”, à mistura com as revistas de fotonovelas?

Foi também por essas décadas que o aparecimento da edição portuguesa da revista “TinTin”, a partir de 1968 e do movimento dos fanzines, a partir de 1972, que os tradicionais “quadradinhos” ganharam uma nova dimensão de arte maior, classificada como a 9ª arte.

Muito por influência da ruptura cultural vivida em França com o Maio de  1968, que contagiou o resto da Europa ocidental, alguns intelectuais perceberam as características comunicacionais e as qualidades estéticas dessa arte até aí marginal, como aconteceu com os textos que o realizador Alain Resnais e o escritor e filósofo Umberto Eco dedicaram àquela que passou a ser designada, a partir de então, com a 9ª arte.

As qualidades estéticas e a influência da divulgação que a Banda Desenhada franco-belga começou a ter em Portugal a partir da já referida revista “TinTin”, principalmente nos textos de divulgação nela publicados da autoria de Vasco Granja, levou a uma progressiva mudança na designação que por cá começámos a dar a essa arte, cada vez menos as “Histórias aos Quadradinhos” e cada vez mais a “Banda Desenhada” dos nossos dias.

Nos últimos tempos, contudo, têm vindo a ganhar terrenos duas novas designação, a “Manga”, de origem japonesa, muito popular entre os leitores mais jovens, e a “Novela Gráfica”, entre os entusiastas mais adultos, informados e intelectualizados.

A geração do autor destas linhas continua dividida entre as “Histórias aos Quadradinhos” e a “Banda Desenhada”.

Mas, no fundo, no fundo, o que é a “Banda Desenhada”? (designação que vamos adoptar a partir daqui). Segundo um dos mais importantes estudiosos da 9ª arte, Claude Moliterni, a “Banda Desenhada é uma arte narrativa e visual permitida por uma sucessão de desenhos, acompanhada em geral por um texto, relatando uma acção onde o desenvolvimento temporal se realiza pela ligação de uma imagem a outra, sem que se interrompa a continuidade da narrativa”.

A  sequência de várias imagens, fixadas numa página publicada em papel, distingue a BD dos seus parentes próximos, o Cartoon e o Cinema de Animação, embora se cruzem e influenciem muitas vezes.

Podemos encontra os primórdios daquilo que veio as ser a BD em muitas formas de narração gráfica presentes desde a arte rupestre pré-histórica, passando pelos baixos-relevos egípcios, pelo Pártenon de Atenas, pela coluna de Trajano em Roma, pelos retábulos narrando a vida de Cristo na arte renascentista, até à evolução da edição de gravuras iniciadas com a invenção de Gutenberg no século XV.

Contudo é apenas no século XIX, com a grande evolução técnica e a popularização que a imprensa conheceu nesse período, que assistimos ao aparecimento das primeiras narrativas, gráficas a partir das quais nasce a moderna Banda Desenhada, tal como hoje a conhecemos, combinando todas as características em cima referidas por Claude Moliterni.

Muitos vêem o suíço Rodolphe Töpffer (1799-1846) como o “pai” da BD, que, ao publicar em 1833  “Histoire de Mr. Jabot” , inaugurou esta nova forma de narrativa, embora existam outros trabalhos seus anteriores, pois, desde 1827, elaborou várias histórias ilustradas para distracção dos seus filhos.

A sua obra serviu de modelo para o aparecimentos, um pouco por toda Europa, mas especialmente no mundo francófono, da publicação de outras obras gráficas do mesmo estilo, nas páginas de muitos jornais, cuja edição conheceu um assinalável boom a partir da década de 40 do século XIX.

Entre os primeiros autores conhecidos estão os franceses Amédée de Noé (Cham)(1818-1879), a partir de 1839, Félix Nadar (1820-1910), pioneiro da fotografia, que publicou obras gráficas nos anos de 1848 e 1849,  e o conhecido pintor Gustave Doré (1832-1883) que, na sua juventude, entre 1851 e 1859, realizou várias histórias em imagens.

O humor de Doré influenciou o alemão Wilhelm Busch (1832-1908) que criou um dos primeiros personagens de BD com a série Max und Moritz (1865).

Outras séries surgiram noutros países, como na Grã-Bretanha como Ally Sloper, criada em 1867 por Charles Herry Ross (1835-1897), que durou até 1948, ou  em França com a Família Fenouillard de Christophe (pseudónimo de Georges Colomb (1856-1945)), publicada a partir de 1889 na revista “Le Petit Français Illustré”.

Mas o grande crescimento da BD, da sua popularização e massificação, deu-se com o grande crescimento que a industria da imprensa conheceu nos Estados Unidos da América a partir de 1896.

A luta entre os dois grandes magnatas da imprensa norte-americana William Randolph Hearst e Joseph Pulitzer foi fundamental para a expansão e divulgação do chamado Comic. Foi muitas vezes através da leitura das bandas desenhada publicadas nessa imprensa que muitos imigrantes recém chegados aos Estados Unidos se familiarizaram com a língua inglesa.

Hearst (cuja vida serviu de modelo para o filme  Citizem Kane de Orson  Welles, realizado em 1941) cedo percebeu a importância da ilustração  e dos suplementos dominicais a cores para aumentar a venda dos seus jornais, indo buscar alguns dos melhores ilustradores aos jornais da concorrência, como Richard Felton Outcault (1863-1928). Outcault criou a série “Yellow Kid” em 1896,  para o New York Journal de Hearst, por muitos considerada a primeira verdadeira banda desenhada, já que combina todas as principais características que definem essa arte, a saber, uma narração sequencial dentro de quadrados, a permanência de um mesmo personagem numa série de edições de um jornal e a presença de balões preenchidos com um texto que reproduz a fala do personagem. No caso desta série, é o próprio fato do protagonista que regista esse texto, um rapaz dos subúrbios de Nova Iorque de origem chinesa, com um bibe colorido de amarelo.

A série foi alvo de disputa entre os dois magnatas da imprensa, chegando a conhecer duas versões diferentes em jornais diferentes, passando-se Outcault para a imprensa de Pulitzer onde continuou a desenhar a série até 1901.

Em Portugal os especialistas consideram a data de publicação pela primeira vez no país de uma Banda Desenhada o ano de 1850, na Revista Popular, uma obra de origem estrangeira, assinada por um autor desconhecido que assinava “Flora”, intitulada “Aventuras Sentimentais e Dramáticas do Senhor Simplício Baptista”.

O primeiro português a recorrer à metedologia da BD foi Nogueira da Silva, com colaboração esporádica na imprensa da época a partir de 1856.

Mas é Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) que podemos considerar como o pai da banda desenhada portuguesa, devido ao uso sistemático da técnica da BD, estando aberta a discussão entre os especialistas se foi a sua narrativa gráfica “Conferências do Casino”, publicada em 1871 em “A Berlinda”, ou a sua publicação de 1872 intitulada “Apontamentos de Raphael Bordallo Pinheiro sobre a Picaresca Viagem do Imperador Rasilb pela Europa” que iniciou a sua obra gráfico no estilo da BD.

Ficam assim aqui alguns apontamentos sobre as origens da BD, arte que está na base de mais uma edição da BDVEDRAS.

 

PARA SABER MAIS:

DEUS, António Dias de, Os Comics em Portugal – uma história da banda desenhada, Cadernos da Bedeteca, 1997

FERRO, João Pedro, História da Banda Desenhada infantil Portuguesa – Das origens até ao ABCzinho, ed. Estampa, 1987

MOLITERNI, Claude e MELLOT, Philippe, Chronologie de La Bande Dessinée, ed. Flammarion, 1996

PESSOA, Carlos – Roteiro Breve da Banda Desenhada em Portugal, ed. CTT, 2005;

VÁRIOS – BDGUIDE – Encyclopédie de la bande dessinée internationale – son histoire, ses auters, ses héros, ses journaux, ed Omnibus, 2003;

Venerando Aspra de Matos

AGENDA DE EXPOSIÇÕES:

Exposição "A Censura na Banda Desenhada"

Sala de exposições da Paços - Galeria Municipal (2º andar) - Paços do Concelho / Torres Vedras

Paços do Concelho- Zona Histórica da Cidade de  Torres Vedras

de 16 de maio a 07 junho 2025

Inauguração 16 de Maio, pelas 18:00 horas.

 

Mercado do livro de BD

Livraria "A União" Lda.  Av.5 de Outubro  -  Torres Vedras

de 17 de maio a 21 junho 2025

Inauguração 17 de Maio,  15:30 horas.

 

Exposição "BD PALOP"

Sala de exposições da Cooperativa de Comunicação e Cultura - Zona Histórica da Cidade de Torres Vedras

de 17 de maio a 21 junho 2025

Inauguração 17 de Maio, pelas 17:30 horas.

 

Exposição mostra dos trabalhos do Concurso de Banda Desenhada e Cartoon João Sarzedas

Sala de exposições da Biblioteca Municipal de Torres Vedras

de 24 de maio a 21 junho 2025

Inauguração 24 de Maio, pelas 17:00 horas.

 

Entrega dos prémios do Concurso de Banda Desenhada e Cartoon João Sarzedas

Biblioteca Municipal de Torres Vedras (sala 2ºandar)

24 de Maio, pelas 17:30 horas

 

Lançamento do fanzine de banda desenhada IMPULSO/10

Biblioteca Municipal de Torres Vedras (sala 2ºandar)

24 de Maio, pelas 18:00 horas

 

Visita guiada às exposições

Início Câmara Municipal / Paços do Concelho / Zona Histórica

31 de maio, pelas 15:30 horas

 

Tertúlia de BD

Cooperativa Comunicação e Cultura Torres Vedras

Tertúlia com autores de bd portugueses

31 de Maio, pelas 17:30 horas

 

Conferência "A censura, a inteligência artificial e os direitos de autor"

Biblioteca Municipal de Torres Vedras (sala 2ºandar)

07 de Junho, pelas 17:30 horas

Convidados: José Pacheco Pereira e Carlos Nuno (Ephemera); 

                       Rui Alves Sousa (jornalista Antena 1)

Moderadores: Carlos Ferreira e Venerando Matos (Clicando)

 

Visita guiada às exposições

Início Biblioteca Municipal de Torres Vedras

21 Junho, pelas 16:30 horas

 

Tertúlia de BD

Cooperativa Comunicação e Cultura Torres Vedras

Tertúlia com autores e editores de bd portugueses

21 de Junho, pelas 17:30 horas