SÉRGIO TOVAR DE CARVALHO: «A pequena pandemia»
Pois foi assim. Cerca do meio-dia, faltou-nos a luz. Ainda fomos ao quadro, a ver se era local... mas não, não, parecia geral... Ora, pouco depois soube-se que era geral, coisa do País... Ah, da Península... Os telemóveis ainda funcionavam, a internet ainda dizia algo... (Haveria matriosca no caso? Não se sabia... Ah, o tipo dissera que nada tinha a ver com o assunto?... Então, era preciso cuidado...)

Na' há tv! (Olha que sossego! Que fazer? Conversar, ler... E ouvir rádio, como no 25 de Abril...). Em Lisboa, ao que parece, os semáforos apagaram-se e aquela gente toda ficou à nora. Mas é sempre assim: se chove de repente, todos correm. E o papel higiénico, claro, começou a voar dos supermercados - e a água engarrafada, apesar de não faltar a da Companhia.
Pelas seis da tarde, Castelo de Bode recomeçou a produzir, mas por esta altura já havia montanhas de papel e garrafões em sequestro privado. (Os enlatados vão a seguir).
Os hospitais terão preferência, claro. O que vale é o bom tempo e estarmos na hora de Verão. Mas as farmácias experimentam dificuldades na validação das receitas; apesar disso, mantêm o funcionamento, nada faltará.
Ainda há pouco pus umas caixas no frigorífico, para nada se estragar... O que é o hábito! Logo à noite, se houver pilhas -na loja, já não havia das mais usadas-, havemos de ouvir rádio, como noutros tempos. Passará a novela do Tide? Amanhã, quando a luz já tiver voltado, vamos saber das pessoas exageradas, que encheram a banheira de água; das desesperadas, que fizeram telefonemas lancinantes; e dos miúdos, que não tiveram escola e ficaram muuuuito contentes!, como todos nós quando tínhamos aquela idade.
Agora muito a sério, temos de ter sistemas redundantes! Quer dizer, não nos podemos fiar nas ligações totais, por toda a Europa e por todo o mundo. E sobretudo, temos de ter presente que as comunicações de defesa não podem ficar assentes em circuitos digitais, susceptíveis de cair à mercê de piratas distantes. Nem as eleições.
Todavia, há uma boa notícia, que nos deve animar: daqui à Espanha, à França e à Itália -e mais longe, tanto quanto as linhas, eléctricas ou de caminho-de-ferro nos levam-, vivemos juntos, sujeitos às condicionantes desta nossa humaníssima e contingente condição... E isso, que pode ser uma maçada -ouço agora que também o debate entre os líderes dos partidos mais votados, entre nós, foi adiado... (maçador!, maçador!)- é, por outro lado, animador: dependemos uns dos outros, estamos e vivemos orgulhosamente juntos. E este é o lado luminoso do pequeno drama do grande apagão de 28 de Abril de 2025 que, por aqui, terminou cerca das nove da noite.
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