Saltar para o conteúdo principal

RUI SANTOS: «Chega, cara ou coroa»

Devo confessar, antes de mais, que mudei a minha opinião em relação ao partido Chega. Ou melhor, mudei o meu ponto de vista quanto às preocupações a ter com este alegado partido e a tudo o que o rodeia!

3 min de leitura
Rui Santos
Rui Santos

Se até aqui, entendia eu que não se devia valorizar muito estes perigosos princípios, considerando-os, quiçá, inócuos, hoje, tendo em conta a radicalização do discurso e outros excessos, penso exatamente o contrário.

André Ventura disse, no seu discurso, após se conhecer os resultados eleitorais, esta frase lapidar “Quero mudar a alma do País”. Ele quer…ele pode…ele manda! Que mais poderá querer o bom povo português?

Por detrás desta frase, está toda a abjeção que define o carácter do aparatoso líder do Chega, um partido que mais não é, do que a vontade do seu inspirador e criador. Ao afirmar “Quero mudar a alma do País”, o venturoso Ventura, não só reconhece a existência da Alma, neste caso portuguesa, bem como exprime uma indelével vontade de a mudar. Evidentemente que não é possível a ninguém de bom senso, caracterizar ao certo o verdadeiro alcance das tiradas de alguém que tem como grande referência “o antes do 25 de Abril”. Quem conheceu as agruras do Estado Novo, só pode olhar com desconfiança para este efetivo crescimento do Chega e do seu proporcional desaforo.

Como democrata, resta-me aceitar o resultado das eleições e tentar decifrar o que poderá estar afeto a este impulso populacional. O que de tão mau, levará mais de um milhão e trezentos mil portugueses e portuguesas, a confiarem o seu voto a um homem que mais não sabe do que incitar à violência barata; que é mal-educado; que discrimina; que insulta; que despreza pessoas em função da raça ou da cor e até do sexo; e que usa a calunia e a desinformação como principal metodologia? Fica a questão! Aqui chegados, considero o venturoso Ventura, o resultado de políticas desajustadas, que, em décadas de democracia, não resolveram os problemas concretos das pessoas, muito por culpa principalmente dos partidos do arco da governação. Segundo o venturoso Ventura, no rescaldo das eleições, ele e os seus obedientes seguidores, ajustaram contas com a história (uau…a cereja no topo do bolo), deixaram o partido de Mário Soares para trás e erradicaram a esquerda, alimentando assim, cada vez mais, o seu ódio de estimação esquerdista. Se porventura, o Ventura chegar ao poder, podemos estar certos de que erradicará muito mais, inclusive o Estado de Direito que tanta urticária lhe provoca e horas de sono lhe tira.

Será legitimo comparar o venturoso Ventura com outro justiceiro de seu nome Hitler, também ele arauto da raça ariana? Provavelmente sim, pois também o Führer chegou ao governo alemão, legitimado por eleições livres e capitalizando a descrença e a saturação dos eleitores.

Por cá, depois de uma feroz ditadura de quase 50 anos, os portugueses (ou uma parte deles), parecem dispostos a colocar em São Bento alguém que, se um dia lá chegar, vai governar com um autoritarismo à boa maneira de Donald Trump, fazendo Salazar parecer um menino de coro a seu lado.

Estou em crer que se o venturoso Ventura, um dia vier a governar, vai mesmo conseguir mudar a alma ao País, até porque ele próprio, já vendeu a sua (alma) ao diabo.