LUÍS FILIPE RODRIGUES: «Em memória de Maria Cláudia Rodrigues»
Morreu a dra Cláudia – assim era conhecida no Vilar, sua terra natal; como em Torres Vedras onde foi professora de Biologia (e outras disciplinas) no Liceu, depois Escola Madeira Torres, durante 33 anos – no passado 2 de Agosto, após dolorosos dois anos e meio de luta contra um cancro que a ia minando lentamente. Não existem palavras capazes de explicar o sentimento de uma perda. Mas partiu serenamente, e em paz, no aconchego dos seus familiares.

Morreu quem se dedicou de corpo inteiro, sem tibiezas, àquilo que importava fazer, pois onde punha a mão, vibrava; e fazia vibrar tudo à volta: na família, na escola, na costumeira do dia a dia, no Lar da Caritas, na Catequese, na Instituição Teresiana.
A mais velha de quatro irmãos, constituía o pilar onde se fundavam os afectos, sabendo-se que perante os tempos tumultuosos e desumanizados que hoje se vivem, só o amor os ampara e guia.
Na Escola, discretamente, granjeou respeito e admiração junto dos seus pares, mas sobretudo dos seus alunos que ainda a recordam com saudade e confiança.
Empenhada e civicamente activa, envolveu-se em acções de alfabetização a emigrantes e como secretária da Assembleia de Freguesia durante dois mandatos.
Enquanto elemento fundador da Cáritas Paroquial do Vilar – instituição criada em 1990 e que presta serviços no âmbito do Apoio Domiciliário, do Centro de Dia e de uma Estrutura Residencial para Idosos – manteve-se em permanência nas sucessivas direcções, sempre de modo resoluto e criativo, sendo uma dinamizadora incansável e preocupada com os múltiplos aspectos atinentes ao Lar.
Era responsável pela catequese da paróquia do Vilar durante anos e anos a fio, tarefa a que se entregou zelosa e abnegadamente, tendo sido esse o seu maior afã enquanto mulher dedicadíssima ao trabalho de Igreja. Pessoa de grande Fé e Esperança, virtudes que se manifestaram indelevelmente ao longo da sua vida.
A Instituição Teresiana é uma associação religiosa de leigas, aprovada pelo Vaticano, empenhada na promoção humana e cristã através da educação e da cultura; Cláudia Rodrigues pertencia a esta associação desde o principio da década de 70. Dizia ela que era a sua segunda família, uma família de compromisso.
Mulher de carácter e de causas, não abdicava das suas convicções, jamais atraída pelas circunstâncias da moda. Mantendo coerência e tenacidade face aos ideais e aos compromissos que assumia, manifestando por vezes uma saborosa ingenuidade.
Podemos dizer mesmo que a sua personalidade balanceia entre uma história de vida cerzida num modelo de segurança e de valores apoiados na tradição e um certo desejo de mudança e novidade. Isto quer dizer o quê? Quer dizer que a dra Cláudia foi uma mulher conservadora nos seus princípios, sim, mas audaz e interveniente na acção e na comunicação com os outros, alguém de um enorme coração, sempre atenta e preocupada com quem quer que fosse, sobretudo os mais débeis e desvalidos.
Enfim, eis uma mulher que viveu integrada no seu tempo, mas tentando rasgar novos horizontes, ditados por um incondicional espírito de serviço.
Vilar, 4 de Agosto de 2025