JOAQUIM MOEDAS DUARTE: «Badaladas na encruzilhada»
Foi com estupefação e incredulidade que li o editorial do Badaladas, do passado dia 6 de Junho, intitulado “Revisão da matéria dada!...” Cito o que mais me surpreendeu: «Com a aproximação das eleições autárquicas surgem também as habituais pressões e “recados”, o que em condições normais seria encarado com naturalidade. Mas os tempos que vivemos não são “normais” e não temos condições psicológicas para enfrentar mais uma campanha eleitoral, que nos obriga a um gigantesco esforço de acompanhar candidatos e inaugurações de final de mandato por todo o concelho». E mais adiante, em jeito de conclusão: “Portanto, a não ser que, entretanto, alguma coisa se altere, decidimos não realizar a cobertura jornalística das eleições autárquicas, incluindo as habituais entrevistas aos candidatos”.

Lidas à letra, o significado destas palavras é claro: o corpo redactorial do jornal informa os leitores de que não vai cobrir as eleições autárquicas deste ano. Isto é, um jornal informativo informa que não vai informar. E poderia dizer, usando a célebre metáfora: este jornal vai ser como “uma faca sem gume, à qual tiraram o cabo”. O que é absurdo.
Portanto, aquelas frases do editorial têm um significado muito mais profundo e exigem uma leitura para além do imediato.
Quem tem seguido de perto a crise em que o Badaladas mergulhou desde há uns dois anos, percebe a gravidade da tomada de posição do editorial referido. Ela vem na sequência dos vários sinais da crise, que os leitores atentos têm vindo a perceber. É verdade que a imprensa enfrenta dificuldades financeiras, mas há formas de as enfrentar quando se trata da imprensa local. Olhe-se para as Caldas da Rainha, onde coexistem dois jornais regionais.
Não é novidade nenhuma que a entidade proprietária do Badaladas, a Fábrica da Igreja Paroquial de S. Pedro e Santiago de Torres Vedras, pretende vender o jornal. Mas essa vontade já existe há anos. De que se está à espera?
Desde há muitos anos que sou leitor e assinante do jornal, e seu colaborador pro bono, por isso preocupo-me com o futuro. Em vez de me encostar comodamente na bancada, tenho feito contactos diversos com os responsáveis – pároco e administrador – sozinho ou acompanhado. Encontrei palavras de circunstância, desconfianças, secretismos, promessas vagas. E o tempo corre, tudo na mesma. Posso dizer, pelo que ouço e falo, que os leitores fiéis do jornal esperam, há muito, que nas suas páginas surjam intervenções públicas esclarecedoras, da parte daqueles responsáveis. Em que definam uma linha estratégica simples: dizer aos torrienses, residentes ou na diáspora, que estão profundamente interessados na salvação do jornal, que apelam para a união de todos, que esperam compromissos comerciais, que são solidários com os trabalhadores do jornal e que estão abertos a soluções viáveis, sem condicionantes prévias perante eventuais compradores – que todos sabemos que existem.
Perguntas e palpites
Por que não se avança? Por que estão calados os responsáveis do Badaladas? Aqui e além já ouvi opiniões diversas: “estão à espera que a gráfica feche a torneira e se recuse a imprimir o jornal”; ou “estão a desgastar os trabalhadores do jornal, a ver se eles se vão embora”; ou “estão a rezar por um milagre”.
Pela minha parte, penso que o editorial que motivou este escrito tem um significado muito para além do que diz e ameaça. É o anúncio de uma espécie de greve de zelo, um grito desesperado de quem tem de fazer o jornal todas as semanas e o faz em condições de enorme precariedade. Têm ainda uma esperança, quando dizem: “… a não ser que, entretanto, alguma coisa se altere”. Também nós, leitores, esperamos e interrogamos: por quanto tempo vai durar esta situação? As encruzilhadas exigem a escolha do caminho, não servem para se ficar parado a olhar.
Joaquim Moedas Duarte