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Academia Espaço Dança tem ensino articulado até ao secundário

Em 2009, um coletivo de artistas fundou em Torres Vedras a Ilú - Associação de Dança Teatro de Intervenção Urbana, para dar resposta a “um vazio” na área das artes performativas. “Não havia oferta ao nível da formação e do desenvolvimento de projetos na área da dança”, recorda Marta Lobato, bailarina profissional, professora, coreógrafa e uma das fundadoras da Ilú, a par do irmão, Gonçalo Ferreira.

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Imagem ilustrativa: Academia Espaço Dança tem ensino articulado até ao secundário

“Intuitivamente, fomo-nos conectando com outras pessoas que partilhavam esta visão”, desde bailarinos profissionais, escritores e pintores, entre outros artistas de diferentes origens, com o objetivo de tentar colmatar essa lacuna, através do desenvolvimento de diversos projetos, uns contínuos outro pontuais, assentes em três palavras-chave: ensino, criação e investigação, sublinha Marta Lobato.

A Academia de Dança Clássica e Contemporânea - Espaço Dança (AED) é um dos projetos autónomos desta instituição sem fins lucrativos, e a única escola de Torres Vedras com Ensino Artístico Especializado em Regime Articulado, com ensino básico, 5º ao 9º ano, e secundário, do 10º ao 12º ano, oficializado e aprovado pelo Ministério da Educação.

Para além dos cursos especializados de dança, que permitem aos jovens frequentar em simultâneo o ensino regular, a AED tem também aulas em regime livre, para quem não quer levar a dança tão a sério, e para todas as idades, desde bebés a seniores.

O caminho até ao licenciamento do ensino articulado, em 2016, “foi muito difícil de desbravar”, recorda Marta Lobato, que é também a diretora pedagógica da academia e bailarina da Companhia de Dança Olga Roriz.

Na certeza de que havia talento já na altura, a academia fez de tudo, e continua a fazer, para mostrar às escolas e aos pais que “é possível formar bailarinos e ter uma profissão na área artística”. Estabelecidas parcerias com as escolas do concelho, a academia começou com oito alunos.

Desde então, já chegou a ter 40, só em regime articulado. Tem atualmente cerca de uma centena de alunos, entre o regime livre e o regime articulado.

O primeiro estúdio da AED, na Rua Figueiroa Rego, depressa deixou de ser suficiente para albergar todos os alunos da academia e também os do curso Performact, uma formação intensiva para intérpretes e coreógrafos de dança contemporânea, lançada entretanto pela Ilú, com reconhecimento da Escola Superior de Dança.

De lá para cá, “crescemos imenso”, refere Marta Lobato, lembrando que a associação tinha inicialmente aulas de dança em várias coletividades do concelho, onde ainda hoje se mantêm alguns dos seus polos.

A AED acabou por se instalar definitivamente no Bairro Arenes, na Rua Brigadeiro Miranda Palha, num antigo armazém que foi preciso reestruturar do zero. A Performact ganhou também um espaço próprio ao seu lado, na Rua da Eletricidade. As duas instituições partilham a Living Street, antiga rua dos SMAS, que é agora um espaço de encontro e de lazer, não só para os alunos, mas para a própria comunidade.

O curso nesta escola profissional de dança tem a duração de dois anos de formação, entre aulas e processos de criação. O espaço conta com seis estúdios e tem atualmente 60 alunos de todo o mundo. Apenas oito são portugueses. Todos os anos recebe cerca de 30 coreógrafos, professores e bailarinos de diferentes países. Professores e alunos acabam por ficar alojados no concelho. Vários acabaram por se render ao nosso país e ficaram por cá, a residir e a desenvolver os seus projetos artísticos.

Para a Espaço Dança, chegar aos dias de hoje “não foi um caminho fácil, mas deu muitos frutos”, sublinha Marta Lobato. A maior dificuldade continua a ser financeira. A escola “não é autossuficiente”. Depende do apoio do município para a renda e da atribuição de bolsas de ensino artístico por parte do Ministério da Educação. “A formação deveria ser gratuita. Há talentos que se perdem porque não têm condições financeiras de seguir o curso”, defende Marta Lobato, na esperança de que um dia as coisas mudem.

Este ano, a academia colhe porventura um dos seus maiores frutos: os primeiros quatro finalistas do curso secundário do ensino especializado, que abriu há três anos. “É a primeira vez que temos uma sequência completa de formação, desde o 5º ano ao 12º, e estes jovens vão continuar”, revela a diretora pedagógica.

Para os colegas destes jovens, que optaram por não seguir a carreira artística, mas não quiseram cortar laços nem com a dança, nem com a “família” que acabaram por criar na escola, foi aberta uma turma de formação complementar.  “A dança passou a fazer parte da vida deles. Eles passam aqui mais tempo do que na escola, vêm para aqui sempre que podem, mesmo não tendo aulas”, refere Bernarda Bernardo, produtora e gestora cultural da Ilú. “Esta acaba por ser a sua segunda casa”, acrescenta.

Por outro lado, a Espaço Dança desenvolve projetos pedagógicos que permitem estimular a inclusão social de idosos, com uma turma de dança para seniores, e de pessoas portadoras de deficiência, através de uma parceria com a APECI. O “Levar-te à Dança”, é outro dos projetos da academia que promete regressar em breve, com os alunos do secundário em demonstrações de reportório e debates nas escolas.

Entre as várias iniciativas que desenvolve com regularidade, desde audições, competições, espetáculos temáticos e atuações em eventos, entre outros, a associação promove todos os anos o “Be Summer”, uma semana de dança para jovens entre os 13 e os 18 anos, nos estúdios da associação, em regime de tudo incluído, com professores das mais variadas áreas da dança, e que acaba por ser uma semana de férias para os mais jovens.

Também no verão, mas em Santa Cruz, é realizado o “Summer Intensive”, três semanas intensivas de aulas de dança contemporânea para adultos, numa vertente mais profissional, e ainda o Festival Multiplicidades, totalmente organizado pelos alunos da Performact, onde apresentam as suas próprias criações e de coreógrafos de renome internacional.