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Paleontólogos da SHN de Torres Vedras anunciam nova espécie de dinossauro com 125 milhões

Filippo Bertozzo, do Museu Real de Ciências Naturais de Bruxelas e da Sociedade de História Natural de Torres Vedras (SHN), juntamente com uma equipa internacional de investigadores de Portugal, Bélgica, Itália e Estados Unidos, estudou um raro crânio de dinossauro do Cretácico de inferior de Portugal, identificado como o primeiro iguanodonte do Cretácico português, hoje anunciado com a publicação do estudo na prestigiada revista internacional Journal of Systematic Palaeontology.

Redação
3 min de leitura
Imagem ilustrativa: Paleontólogos da SHN de Torres Vedras anunciam nova espécie de dinossauro com 125 milhões

Em nota de imprensa enviada à nossa redação, a SHN descreve que este novo dinossauro herbívoro deambulava pelos vales do Cretácico Inferior, há cerca de 125 milhões de anos, no local que é hoje a Península Ibérica. O espécime foi encontrado no litoral costeiro, a sul de Lisboa, no município de Sesimbra, em 2016.

De acordo com o SHN, o estudo agora publicado descreve o crânio, “o mais completo de um dinossauro já achado em Portugal”, revelando que se trata de uma espécie totalmente nova e desconhecida pela ciência. Esta é portanto “uma descoberta excepcional para Portugal”, afirma Bruno Camilo, segundo autor do estudo científico, e diretor da SHN.

“A descoberta e descrição do Cariocecus bocagei marcam um passo fundamental na compreensão da diversidade e evolução dos iguanodontídeos na Península Ibérica”, comenta Victor Carvalho, co-autor do estudo e investigador da SHN, responsável pela reconstrução do espécime. “Exceto pelos dentes, a preservação de material craniano nos fósseis do Mesozóico português é extremamente rara, mas desta vez tivemos sorte. A excecional integridade deste espécime permitiu não só a reconstrução anatómica interna, incluindo o cérebro, os nervos cranianos e o ouvido interno, como também a recriação da sua aparência externa com elevado rigor científico”.

 

Bruno Camilo adianta ainda que “por se tratar de um exemplar jovem ou subadulto, permite conhecer o momento e as modalidades em que se deu a co-ossificação dos ossos cranianos durante o crescimento, o que é muito raro conseguir compreender num dinossauro. Para além do seu contributo para o conhecimento da sua biologia, este espécime aporta importantes informações sobre a origem e diversificação destes animais durante o Cretácico, sublinhando que dentro do grupo, é um dos mais antigos hadrossauróides  conhecido, o que propõe uma origem euro-africana do grupo e não asiática como suposto anteriormente”, refere.

Antes do estudo apresentado por Bertozzo e colegas, os fósseis de iguanodontes do Cretácico Inferior eram raros e pouco informativos. “A descoberta do primeiro iguanodonte do Cretácico Inferior de Portugal tem uma importância crucial para a compreensão da história evolutiva do seu grupo”, refere Filippo Bertozzo. “Temos uma diversidade abundante de animais semelhantes de épocas ainda mais antigas, do Jurássico Superior, mas mais primitivos, não estando ainda dentro da linhagem dos iguanodontes. Portugal demonstra ser uma importante "ponte" entre estes períodos geológicos, e que nos permitirá desvendar os segredos do sucesso evolutivo dos iguanodontes”, sublinha o cientista.

Cariocecus bocagei foi descoberto perto da Praia da Área do Mastro, pelo olhar atento de Pedro Marrecas, um dos coautores do estudo. O fóssil era apenas parcialmente visível no bloco rochoso, graças à fileira de dentes salientes, e só o meticuloso trabalho de preparação e restauro permitiu que este novo iguanodonte pudesse voltar a ver a luz do dia, 125 milhões de anos depois.

De acordo com a SHN, a excepcional preservação e tridimensionalidade dos vários elementos do crânio do Cariocecus permitiram a reconstrução digital do cérebro, dos nervos cranianos e, principalmente, do ouvido interno. “Estamos a aprofundar cada vez mais o conhecimento sobre capacidades sensoriais dos dinossauros, sendo que a preservação excecional do endocrânio de  Cariocecus permitiu-nos compreender melhor os detalhes dos ouvidos e audição destes animais”, refere Ricardo Araujo, co-autor e investigador do CERENA (Instituto Superior Técnico) e da SHN. “Cariocecus está a revelar-se uma caixa de Pandora em questões muito interessantes e importantes sobre a biologia dos dinossauros, consideram os paleontólogos.