História das "Três Marias" foi o mote para conversa sobre condição feminina
Assinalando o Dia Internacional da Mulher, a incubadora Oeste Respira (um projeto sediado em Torres Vedras e apoiado pela Câmara Municipal de Torres Vedras) organizou, na manhã do passado dia 8 de março, no Centro de Artes e Criatividade, uma atividade que visou refletir sobre a condição feminina, partindo da exibição do documentário Novíssimas Cartas Portuguesas.

Este documentário, produzido em 2021, procura retratar a condição das mulheres em Portugal no período que antecedeu o 25 de Abril e levar a refletir sobre a evolução dessa condição até aos dias de hoje, baseando-se na história relativa à publicação do livro Novas Cartas Portuguesas, em 1972, por Maria Velho da Costa, Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta (conhecidas como "as três Marias").
Após a exibição do documentário seguiu-se uma conversa que incidiu na temática do mesmo, moderado por Marta Amorim (da Oeste Respira), a qual contou com a participação de quatro mulheres torrienses: Laura Rodrigues (presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras), Adelaide Pereira Alves (militante do Partido Comunista Português que fez parte do comité central deste partido político até 2024 e tem integrado a direção do Movimento Democrático de Mulheres), Paula Paulo (professora aposentada) e Catarina Lopes (artista e ativista, técnica de projeto na Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género).
Na ocasião, Laura Rodrigues sugeriu a obrigatoriedade da introdução do livro Novas Cartas Portuguesas nos currículos escolares, lamentando o facto de tal ainda não ter acontecido por não existir um contexto social adequado para o efeito. Após ter abordado a sua experiência autárquica na condição de mulher, a presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras aproveitou para relembrar que os cargos de chefia continuam a ser em grande parte ocupados por homens, inclusivamente em organizações em que predominam elementos do sexo feminino.
Adelaide Pereira Alves, por seu lado, relevou na sua primeira intervenção o progressismo dos torrienses relativamente à temática da igualdade de género, de que é exemplo o facto de atualmente Laura Rodrigues ser uma das 29 mulheres presidentes de câmara municipal no país. Lembrando que o papel das mulheres nas lutas políticas em Portugal remonta ao início do século XX, Adelaide Pereira Alves chamou a atenção para a importância de se reavivar a memória do 25 de Abril e das “três Marias”, numa época em que no país muitas mulheres ainda não têm autonomia financeira por trabalharem apenas em tempo parcial.
Já Paula Paulo recordou memórias dos seus tempos de estudante, em que foi oposicionista ao Estado Novo, época em que tomou conhecimento da edição das Novas Cartas Portuguesas. Referiu ainda que ao longo da sua carreira profissional aproveitou para incutir valores familiares progressistas aos seus alunos, tendo frisado a lentidão dos processos de mudança de mentalidades, o que faz com que atualmente muitas mulheres, desde logo nas escolas, não tenham uma postura que se coadune com a assunção dos seus direitos.
Referência também para as ideias transmitidas na conversa por Catarina Lopes, de entre as quais a de que as lutas feministas mais recentes remetem para questões como as da orientação sexual e da definição de género. Numa das suas intervenções, Catarina Lopes alertou para o fortalecimento dos movimentos de extrema-direita, os quais podem representar um retrocesso no que concerne aos direitos historicamente adquiridos pelas mulheres.
De referir, ainda, que a iniciativa que se realizou na manhã do passado dia 8 de março no Centro de Artes e Criatividade teve como intuito homenagear de forma especial a poetisa, jornalista e ativista Maria Teresa Horta (uma das “três Marias”), que faleceu recentemente, aos 87 anos, personalidade que se destacou pela sua coragem na defesa dos direitos das mulheres e pela sua contribuição para a literatura portuguesa.