Trabalhadores das Águas do Vimeiro realizaram primeira greve da história da empresa
Alguns trabalhadores da Águas do Vimeiro realizaram, no passado dia 24 de abril, a primeira greve da história da empresa, fundada em 1820. Convocada pelo SINTAB/CGTP, a paralisação foi motivada por denúncias de prepotência, repressão, chantagem e falta de respeito da atual administração, em funções desde 2018.

À porta da fábrica, uma dezena de trabalhadores reuniu-se para denunciar publicamente a situação laboral que afirmam ter-se deteriorado drasticamente desde que a nova gestão assumiu o comando, em 2018. Relataram casos de repressão por parte dos recursos humanos e diretores de fábrica, incluindo alterações de horários sem justificação nem aviso prévio, proibição de diálogo com dirigentes sindicais, e pressão para o incumprimento deliberado das normas de segurança e saúde no trabalho.
Outro dos problemas apontados foi a obrigação de transportar manualmente garrafões de oito quilos durante as oito horas de trabalho, consequência da avaria do equipamento de transporte, que a empresa não terá reparado. A falta de condições de trabalho, aliada ao desrespeito e à ausência de diálogo efetivo, levou os trabalhadores a considerar a situação insustentável.
Jorge Tomás, delegado sindical e funcionário com três décadas de experiência na empresa, descreveu o momento como inédito e insuportável: “esta empresa é um símbolo para a Maceira e para os seus trabalhadores. O que está a acontecer é uma afronta à dignidade de quem aqui trabalha todos os dias. Não queremos insultos, queremos respeito e diálogo sério”.
Antes de avançarem para a greve, os trabalhadores tentaram resolver os problemas em reuniões com os responsáveis de recursos humanos e com a administração. No entanto, segundo Jorge Tomás, não obtiveram qualquer resposta satisfatória.
Além das denúncias sobre o ambiente de trabalho, os funcionários criticam a existência de grandes disparidades nos subsídios de turno: trabalhadores que cumprem funções semelhantes recebem, em alguns casos, 45 euros e, noutros, 100 euros, sem explicação transparente para tal diferença.
Outra queixa prende-se com a imposição de três horários de almoço diferentes, que começam às 10h da manhã e terminam às 14h, uma medida implementada para evitar paragens nas linhas de produção, mas decidida sem consulta prévia aos trabalhadores.
Solidariedade sindical e política
A greve gerou uma forte onda de solidariedade dentro da CGTP-IN, com várias estruturas sindicais de diferentes setores a marcarem presença no plenário realizado durante a paralisação. Entre os apoiantes estiveram também representantes políticos locais, como João Marques, do Movimento Cívico Unidos por Torres Vedras, e Fernando Guerra e Álvaro Santos, da CDU. Estes responsáveis anunciaram a intenção de reunir com a administração da Águas do Vimeiro nos próximos dias para avaliar o estado da empresa.
Tiago Oliveira, novo secretário-geral da CGTP, sublinhou a importância da empresa para o tecido económico local e criticou a administração: “a empresa deveria ser um exemplo na criação de emprego e de respeito pelos trabalhadores. O que vemos é um retrocesso nos direitos laborais”.
Resposta da administração
Apesar da mobilização, a Águas do Vimeiro manteve-se operacional durante a greve. Em comunicado, a administração da empresa afirmou que apenas uma pequena parte dos trabalhadores aderiu à paralisação, indicando que 86% dos funcionários se mantiveram ao trabalho. Para a direção, esta adesão reduzida comprova que “a maioria dos trabalhadores não se revê nos motivos apresentados”.
A empresa acusou ainda o sindicato de ter usado a greve para defender “interesses pessoais dos seus dirigentes”, alegando que as queixas apresentadas eram casos específicos e não generalizados. A administração reafirmou a sua disponibilidade para um “diálogo sério e construtivo”, mas rejeitou a utilização da greve como forma de pressão.
Atualmente, a Águas do Vimeiro conta com 56 trabalhadores efetivos e quatro temporários.
Bloco de Torres Vedras solidário com a luta dos trabalhadores da empresa “Águas do Vimeiro”
A concelhia do Bloco de Esquerda de Torres Vedras emitiu um comunicado, no qual manifesta solidariedade com a luta dos trabalhadores das Águas do Vimeiro, que estiveram em greve no dia 24 de abril, “contra um conjunto de atitudes da nova administração e de deterioração das condições de trabalho, conforme denuncia do Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura e das Indústrias de Alimentação, Bebidas e Tabacos de Portugal”.
A mesma organização denuncia atitudes de “enorme prepotência”, bem como de perseguição e ingerência na vida privada a dirigentes e delegados sindicais, com pressão para limitar o direito a reunião e ação sindical, bem como “alteração de horários em sinal de castigo e sem aviso prévio nem motivo e pressão para incumprimento deliberado das normas de segurança e saúde no trabalho”, referiu aquele sindicato.
O Bloco de Esquerda está a desenvolver em todo o país um abaixo-assinado para a criação de legislação que apoie estes trabalhadores, que em Portugal são mais de um milhão. Para além do combate à precariedade, o Bloco defende proteção dos fins de semana e das pausas entre turnos, reconhecimento do desgaste deste tipo de horários com antecipação da reforma e mais 30% do salário.